O apartheid ou aqueles que já nascem mortos
Uma amiga antropóloga diz que a sociedade baiana vive em regime de apartheid. Relutei em encampar essa visão, mas dou a mão à palmatória.
O assassinato gratuito do jovem Kaíque Abreu, durante o carnaval, é uma mostra do tipo de sociedade em que vivemos: o das pessoas de bem- claramente pertencentes à classe média- e a de maus elementos, que quase sempre vivem numa linha abaixo da pobreza, sem estrutura familiar, princípios e valores, sustentados basicamente pela raiva contra tudo e contra todos que os alimenta.
O que esperar de uma sociedade tão dissonante como essa?
Uma convivência pacífica?
Uma convivência pacífica?
Quem cria monstros como o assassino do rapaz, que confessou tê-lo matado porque estava com raiva e com vontade de agredir a primeira pessoa que passasse pela frente?
O criminoso certamente passará muitos anos na prisão, se não for morto antes,mas pessoas como ele abundam por aí. E a responsabilidade é nossa.
A raiva é o combustível que os move, e se pararmos para refletir chegaremos à conclusão que não poderia ser diferente do que é.
Uma sociedade sadia não pode manter uma parte sua à margem sem que tenha que pagar por isso.
Um tratamento igualitário a todos os seus cidadãos é o mínimo que se pode exigir de uma sociedade decente que quer viver em segurança e paz.
O criminoso, certamente, não teve oportunidades de ser diferente do que é. Ele já nasceu morto, sem chances, sem oportunidades. É um zumbi.
Se quisermos criar uma cultura de paz e sem violência, como prega a Igreja nessa Campanha da Fraternidade, é preciso que paremos de olhar apenas para o nosso próprio umbigo, para as paredes que nos protegem e/ou apenas para nossa vizinhança mais próxima.
É preciso estender o olhar para esses outros que são o nosso reflexo e entender que existe uma dependência mútua. Nada vai prestar enquanto os pratos dessa balança mostrarem tanta desproporção.
Aurora Vasconcelos
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