sexta-feira, 2 de novembro de 2018

O BRASIL NÃO É A FRANÇA

Resultado de imagem para CARICATURA CIRO GOMES
Face a Face
Aposta errada

   O PT apostou numa estratégia furada: confundir o Brasil com a França. Em benefício próprio. A ideia era simples: como aconteceu duas vezes na França, todos se uniriam, direita e esquerda, para barrar a extrema-direita. Na França, porém, isso se deu em favor da direita. Lula implodiu qualquer frente de esquerda, isolou Ciro Gomes e empurrou Fernando Haddad para o segundo turno. Imaginava um palanque com Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva, Álvaro Dias e todos os republicanos em defesa da democracia e em luta contra o designado fascismo.
Não rolou. O temor ao fascismo por aqui não tem o mesmo impacto que na Europa onde as lembranças de Hitler e Mussolini não podem ser apagadas. FHC manteve-se tucano como sempre. Em cima do muro. Recusou Jair Bolsonaro, mas não se declarou para Fernando Haddad. Ciro Gomes e Marina Silva, com métodos diferentes, deixaram entender o seguinte: se o PT não aceitou uma frente com um deles na cabeça para salvar o país do fascismo, por que eles teriam de fazer isso com Haddad no papel de presidenciável? Se o perigo era real, deveria ter sido enfrentado mais cedo, ainda mais que o componente central, aquele que decidiu a eleição, foi o antipetismo. Nada mais óbvio.
Eis o quadro: o PT estabeleceu uma premissa, a de que Bolsonaro representava um perigo para a democracia. Consequências: se acreditava realmente nisso, teria de tomar todas as providências para evitar a vitória do capitão. A mais evidente seria abrir mão da cabeça de chapa para tirar do jogo o elemento antipetista. Ou designar Bolsonaro como fascista e como um perigo para a democracia era só um argumento de campanha para assustar a população e os políticos democratas de maneira a obrigá-los a fazer campanha por Haddad e a devolver o petismo ao poder? Por fim, última hipótese, o PT acredita na sua premissa, mas não se importa com o resultado eleitoral. Era ele ou nada. O PT cobrou de Ciro a grandeza que não teve.s Ciro pagou na mesma moeda.
Ninguém entrou de fato no jogo do PT. Ciro, Marina, Alckmin, FHC e outros, no fundo, disseram: não gostamos de Bolsonaro, política de extrema-direita, que é um salto no escuro, mas não o vemos totalmente como esse perigo todo para a democracia. Ou viram e se lixaram.
Muitos democratas republicanos devem ter os mesmos preconceitos de Bolsonaro, que minimizam com imaginário adquirido numa época com valores diferentes, ou concordam com as propostas liberalizantes do capitão expressa na sua aliança com o economista Paulo Guedes. O PT pegou o próprio rabo. A isca não foi mordida. Ciro repassou a responsabilidade da eleição de Bolsonaro para Lula. Todos pensaram mais nos seus interesses do que no país. 
O Brasil não é a França. Aqui, a esquerda só faz alianças se for para ela ganhar, o centro é de direita, a direita é de extrema-direita e a extrema-direita não perde por ser fascista. O rótulo não pega. Se na França direita e esquerda se unem no republicanismo de emergência, aqui direita e esquerda se identificam no egoísmo. Só existe a guerra pelo poder. O nazifascismo impôs um limite na Europa. 
Não há limite ao sul do Equador.
Juremir Machado da Silva
Foi coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC-RS

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