quinta-feira, 3 de novembro de 2022

PREFIRO JUCA

 

Cotados para a Cultura, Daniela Mercury e Chico César já se envolveram em polêmicas

Juca Ferreira também é cotado; Daniela foi criticada por cachê público para show em que se manifestou a favor de Lula


Chico César, Daniela Mercury e Juca Ferreira são cotados para assumir Cultura

Chico César, Daniela Mercury e Juca Ferreira são cotados para assumir Cultura

REPRODUÇÃO / INSTAGRAM E AGÊNCIA SENADO

Cotados para assumir o Ministério da Cultura no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente do Palácio do Planalto, os cantores Chico César e Daniela Mercury e o ex-ministro Juca Ferreira já se envolveram em polêmicas.

No segundo turno das eleições, Lula derrotou Jair Bolsonaro (PL). Durante a campanha, o petista havia dito ser um de seus desejos a recriação do Ministério da Cultura, extinto pelo atual chefe do Executivo e transformado numa secretaria. Uma das preocupações da campanha, agora, é a ordem orçamentária da futura pasta.

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Enquanto o petista não oficializa o nome de quem vai chefiar a Cultura, circulam nos bastidores nomes que têm chances de ocupar o posto, como Daniela Mercury e Chico César. A ideia seria repetir a fórmula colocada em prática por Lula durante os anos 2003 a 2008 – na época, o cantor Gilberto Gil comandou o ministério.

Chico César

O cantor Chico César, que já foi secretário de Cultura da Paraíba, se envolveu em um episódio polêmico durante sua gestão. Em 2011, ele afirmou que não contrataria para festas de São João "bandas de forró de plástico e grupos sertanejos". Além disso, a gestão dele foi contestada por falta de entregas.

Após ser alvo de críticas na internet e acusado de tentar censurar artistas, César afirmou que não barraria nenhuma apresentação, mas que não empregaria recursos públicos na contratação de determinados artistas.

"Como secretário de Cultura, digo que o estado não vai contratar nem pagar grupos musicais e artistas cujos estilos nada têm a ver com a herança da tradição musical nordestina, cujo ápice se dá no período junino. Não vai mesmo. Não vou pagar cachê de bandas de forró que não se caracterizam como a tradicional cultura nordestina. Mas nunca nos passou pela cabeça proibir ou sugerir a proibição de quaisquer tendências", disse Chico César à época, em nota.

O cantor também se envolveu em outra polêmia durante sua gestão à frente da secretaria de Cultura. Na época, segundo reportagens, César contratou um ex-integrante da própria banda, João Linhares, como regente da Orquestra Sinfônica da Paraíba (OSP). Integrantes da orquestra questionaram o fato de Linhares não ter formação de maestro, apesar de ele ter formação de violoncelista clássico e ter sido regente-assistente da orquestra Jazz Sinfônica Jovem, de São Paulo.

Artistas paraibanas de outras áreas, como a pesquisadora e crítica literária Sônia van Dijck, questionaram o tratamento privilegiado dado pelo secretário à área de música, em detrimento de outras manifestações culturais.

César participou de uma sessão solene na Câmara dos Deputados em 2015 e cantou uma música em que chama produtores rurais de “pinóquios velhos” e afirma que a produção rural no país não traz desenvolvimento e sim "destruimento" da natureza e dos povos que dependem dela. Na canção, ele afirma ainda que a produção rural brasileira não gera empregos, por ser mecanizada, com maquinário importado.

O cantor teve o nome envolvido também em denúncia sobre o valor que ele cobraria por um show pela reabertura do Forte dos Reis Magos, em Natal (RN), em dezembro de 2021. O show não aconteceu, porque o cantor foi diagnosticado com Covid-19, mas o cachê acertado era de R$ 90 mil. Alguns meses antes, em setembro, ele recebeu R$ 35 mil reais de cachê para um show no Tribunal do Trabalho da 4ª Região, no Rio Grande do Sul.

O Governo do Rio Grande do Norte, comandado por Fátima Bezerra (PT), alegou que a comparação era incabível, porque o show no Rio Grande do Sul foi acústico, apenas com o músico, enquanto o show em Natal seria com a banda e em período festivo, quando os cachês de todos os artistas são mais altos.

Além disso, César foi acusado de intolerância religiosa pela música “Bolsominions”, lançada em setembro de 2022. A letra afirma que “Bolsominions são demônios, que saíram do inferninho, direto pro culto, pra brincar de amigo oculto, com Satã no condomínio”.

A então vereadora de João Pessoa (PB), Eliza Virgínia (PP), evangélica, afirmou que a música ofendia todos os cristãos evangélicos, incitando o que ela chamou de “cristofobia”. Eliza Virgínia se licenciou da Câmara de Vereadores da Paraíba e, como suplente, assumiu a vaga de Aguinaldo Ribeiro, que se candidatou à reeleição.

Daniela Mercury

A cantora Daniela Mercury, uma das cotadas para assumir o Ministério da Cultura, esteve envolvida recentemente em uma polêmica sobre o pagamento de cachê com o uso de recursos públicos oriundos de emendas parlamentares.

Em maio, a Prefeitura de São Paulo pagou R$ 100 mil pelo show que a cantora havia feito, na capital paulista, no Dia do Trabalhador – evento que contou com a presença do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de demais personalidades políticas. Dias depois, o pagamento foi suspenso.

A cantora Daniela Mercury

A cantora Daniela Mercury

REPRODUÇÃO/ INSTAGRAM

O show foi contratado pela Secretaria de Cultura e intermediado pela Califórnia Produções e Edições Artísticas, empresa de que a cantora é sócia. Durante a apresentação, na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, a cantora criticou o governo de Jair Bolsonaro (PL), levantou a bandeira do Partido dos Trabalhadores e incentivou o voto no petista. "Tem que ser Lula, eu quero Lula", disse Daniela na ocasião.

Em nota, a administração municipal, chefiada por Ricardo Nunes (MDB), informou que os cachês dos artistas que se apresentaram no evento de 1º de Maio foram pagos com recursos de emendas parlamentares. Dias depois, contudo, suspendeu de forma cautelar o pagamento. A apuração é realizada pela Controladoria-Geral do Município.

A empresa de qual Daniela é sócia intermediou a transação do cachê, firmada por indicação de emenda parlamentar apresentada pelo vereador Sidney Cruz (Solidariedade). O congelamento do pagamento segue em vigor até o fim do procedimento de apuração dos fatos e eventuais responsabilidades.

O show ocorreu na zona oeste da capital paulista e, na ocasião, Daniela foi a que mais recebeu dinheiro público: R$ 100 mil, que foram suspensos posteriormente. Na sequência, aparecem a banda Francisco El Hombre (R$ 30 mil), o rapper Dexter (R$ 28 mil), a banda Sampagode (R$ 17 mil) e o DJ KL Jay (R$ 12 mil). Somados, os valores chegam a R$ 187 mil.

Somadas, as emendas parlamentares que bancaram o evento pró-Lula chegam a quase R$ 1 milhão. Os vereadores que enviaram emendas para o ato são Sidney Cruz, do Solidariedade, e Eduardo Suplicy e Alfredinho, ambos do PT. Recentemente, o deputado federal Paulinho da Força, que comanda o Solidariedade, oficializou apoio a Lula na corrida ao Palácio do Planalto.

Em nota divulgada à época, a equipe de Daniela Mercury informou que a contratação da artista foi feita pela produtora MGioria Comunicações, o que não consta na publicação do Diário Oficial de São Paulo. "O valor do cachê foi quitado integralmente pela MGioria. A produtora da artista esclarece que não recebeu e nem receberá nenhum recurso da prefeitura", diz o comunicado.

Outras polêmicas

Em 2017, durante o carnaval, a cantora baiana foi acusada de fazer "blackface", que é uma prática na qual pessoas negras eram ridicularizadas, no passado, para o entretenimento de brancos. A cantora negou, disse que estava homenageando Elza Soares, já que o tema daquela noite era o empoderamento negro.

Em 2013, no Instagram, Daniela Mercury assumiu uma relação homossexual com a jornalista Malu Verçosa. "Malu agora é minha esposa, minha família, minha inspiração pra cantar", afirmou a cantora e embaixadora do Unicef no comentário, acompanhado de uma série de fotografias em que ambas aparecem juntas.

E em 24 de junho, Daniela e a mulher se beijaram no plenário da Câmara dos Deputados. As duas participaram da sessão solene pelos 50 anos do Levante de Stonewall, uma série de manifestações de membros da comunidade LGBT contra a invasão da polícia de Nova York, em 1969, em um bar da cidade.

Em abril de 2022, outra polêmica envolvendo a cantora. Ela foi acusada de ter afirmado que "Jesus é gay". O vídeo, no entanto, foi editado, mostrando trechos diferentes da fala da cantora durante um show que ocorreu em 2018. Na versão original, Daniela Mercury está cantando a música "Tempo Perdido", do cantor Renato Russo. É ele quem a baiana chama de gay, e não Jesus.

Desde 2019, Daniela Mercury e Jair Bolsonaro trocam acusações sobre o uso da Lei Rouanet pela cantora. Ela e Caetano Veloso lançaram a música "Proibido o Carnaval" como um protesto contra censura e cita a polêmica da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, de que "menino veste azul e menina veste rosa".

O presidente reagiu sem fazer referência direta aos cantores: "Dois 'famosos' acusam o Governo Jair Bolsonaro de querer acabar com o Carnaval. A verdade é outra: esse tipo de 'artista' não mais se locupletará da Lei Rouanet".

A partir disso, começou a discussão sobre o uso do dinheiro público pela artista. Segundo a própria artista, ela usou certa de R$ 1 milhão de verba pública em 20 anos de carreira. Em 2022, o assunto voltou a ser levantado por bolsonaristas após a cantora afirmar em um evento pró-Lula, que nunca recebeu dinheiro de lei de incentivo à cultura.

A assessoria da cantora afirmou que a verba captada não é governamental, por via de empresas privadas. No entanto, o dinheiro para projetos da Rouanet é verba pública, obtida por meio da renúncia fiscal de impostos devidos pelas empresas.

Levantamento no site da Lei Rouanet mostra que em 2015 e 2016 a cantora captou R$ 270 mil para a gravação de um disco. E, em 2012, ela teve um pedido de R$ 1.805.590,00 solicitado, que teve valor aprovado de R$ 1.568.790,00, porém o projeto não teve dinheiro captado. Seria usado em 10 shows acústicos.

Juca Ferreira

Durante a gestão de Juca Ferreira na Secretaria de Cultura de São Paulo, houve denúncias de desvio de recursos no Theatro Municipal.

Uma CPI chegou a ser instalada para investigar o esquema, que teria movimentado R$ 18 milhões durante a gestão de Fernando Haddad (PT) na prefeitura. Ferreira, que também foi ministro da Cultura, negou qualquer envolvimento ou conhecimento das irregularidades. 

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