domingo, 27 de novembro de 2022

O OÁSIS DO XEQUE

 Xeque do Qatar criou oásis no deserto e salvou ararinha-azul da extinção


À primeira vista o Al Wabra Wildlife Preservation (AWWP) pode se assemelhar a um zoológico de animais em um oásis com densa área verde e palmeiras, mas bem diferente da lógica do entretenimento movido ao cativeiro de animais silvestres, o local é destinado à preservação de diversas espécimes raras, algumas que já estiveram em total extinção na natureza, como a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii). Localizado na cidade de Al Shahaniyah, centro do Qatar, um país desértico e sede da Copa 2022, a instituição foi fundada pelo xeque Saud bin Muhammed Al Thani, morto em 2014. Saud era um ávido colecionador de arte e tinha a preservação da natureza como uma de suas causas.

No centro de preservação de vida selvagem que criou, além das ararinhas-azuis, estão uma espécie de gazela da areia árabe e o órix-da-Arábia, um antílope de grandes chifres. A gazela árabe do deserto tem cerca de 3000 animais vivendo na natureza. 

A gazela árabe do deserto tem cerca de 3000 animais vivendo na natureza. Imagem: Karim Sahib/AFP 


De colecionador a protetor de animais Vamos com calma, nem tudo são flores nesse oásis. É honesto lembrar que a história por trás da criação do centro começa com uma fazenda, que era o hobby do pai do xeque, e tinha mais o 'ar de coleção viva' do que de santuário. No entanto, foi transformada em um centro de pesquisa com animais de diversos locais do mundo e veterinários e biólogos especializados, além de uma estrutura moderna. Foram nessas instalações que, pouco antes de sumir por completo da natureza brasileira (2000), as ararinhas-azuis viviam muito bem protegidas e tratadas. Após a.morte de Al Thani [em 2014], a ONG alemã Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), adquiriu as aves e contratou os profissionais responsáveis pelos seus cuidados..

Ararinha-azul foi salva graças ao trabalho do criadouro do xeque. Imagem: Association for the Conservation of Threatened Parrots 


O cenário se tornou ainda mais crítico quando, em certo momento, 90% das ararinhas-azuis viviam em um zoológico privado da Alemanha, bem longe de seu lar natural, na caatinga do Brasil, mais especificamente entre os municípios de Petrolina (PE) e Curaçá (BA). No entanto, apesar de estar envolvida em polêmicas passadas, como a venda de aves, a ONG ACTP se mostrou disposta a colaborar na preservação da ararinha-azul, e fechou parceria com o ICMBio. Agora, os esforços em conjunto têm como objetivo a reintrodução de alguns exemplares da espécie no bioma brasileiro. Já apresentando os primeiros resultados em março de 2020, quando 50 ararinhas-azuis chegaram em viagem internacional da Alemanha para Petrolina (PE). Ainda assim, soltos na natureza, os animais enfrentam uma outra etapa da batalha pela sobrevivência, mas contam com brigadistas que fazem parte do projeto de conservação que monitoram as aves de perto. Indiretamente, tudo isso só foi possível, pelo cuidado dispensado aos animais no AWWP, criado e mantido por Al Thani, que ao longo do tempo foi um dos criadouros mais bem-sucedidos das ararinhas-azuis no mundo. 

O Órix-da-arábia é um dos animais preservados na instituição. Imagem: Matthew Starling/Getty Images/iStockphoto..


"Estar ligado a um projeto de conservação é status também. É o caso do xeque Saud bin Muhammed Al Thani, que era um apaixonado por animais. Ele realmente contribuiu, fez as melhores instalações, tinha os melhores profissionais", explicou Camile Lugarini, coordenadora do Plano de Ação Nacional para a Conservação da Ararinha-Azul, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em depoimento recente a Ecoa..

Chuva artificial, ar-condicionado e áreas inacessíveis para visitantes Fechada ao público geral, as muitas áreas da AWWP são construídas em uma região de clima árido. Por isso contam com um aparato tecnológico capaz de criar chuvas artificiais e com ar-condicionado que oferecem conforto térmico, nos criadouros, às espécies não adaptadas ao clima local. Ao todo, mais de 2.500 animais de mais de uma centena de espécies diferentes vivem na instituição, que está envolvida em projetos internacionais de reprodução em cativeiro, e que agora pretende criar uma área de educação sobre a vida selvagem voltada para jovens, a fim de aumentar a consciência ambiental, de acordo com site oficial da AWWP.

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