segunda-feira, 14 de novembro de 2022

R3 URGENTE!

 Memória é pra cuidar, preservar, servir!

Residências Universitárias- R3 urgente.


Os anos de 1980 foram marcantes para uma geração de estudantes, residentes Universitários -UFBA , Salvador-BA.
Filhos do interior ou sem estrutura de moradia, tiveram oportunidade em dividir quartos, espaços de vida coletiva nas residências Universitárias R1 e R2 (então só masculinas) na Vitória; e R3- Feminina (no Canela), na Araújo Pinho, em frente à Faculdade de Belas Artes, vizinha de Teatro e outros prédios colossais.

Mais que garantia de direitos aos estudos foi oportunidade de comungar a riqueza dos movimentos da vida universitária em seus múltiplos espaços em experiências científicas, políticas, culturais, afetivas.
E foram muitas movimentações na UFBa, participamos ativamente da História.


Nos últimos anos voltei a morar no interior, onde tento aplicar, na prática, conhecimentos adquiridos em décadas de mergulhos no saber acadêmico ou não.
Nesses últimos tempos, em Salvador (onde estou a fazer tratamento médico e dentário, desde o mês de setembro) integram o meu roteiro semanal, bairros como Graça, Vitória, Canela, Campo Grande, Federação.

Invariavelmente observo o Todo desses espaços: pessoas, ruas, calçadas, prédios, praças, movimentos de vida.
Esta semana passei na rua Padre Feijó, nos fundos da R3, para ir a uma farmácia e observei uma parede com uma árvore enraizada no topo da construção. Quanta luta vegetal para sobreviver.
Feito o registro curioso, observei uma movimentação no portão dos fundos da R3, dei bom dia às pessoas e fui, aos poucos, a cada passo e olhar, sendo invadida por muitas emoções.
Inicialmente, saudades, lembranças ricas de vidas, afetos, experiências coletivas, para sempre nas nossas memórias.


Ao rever as majestosas, potentes e lindas mangueiras da R3 (dos tipos: espada e rosa) fiz um filme na mente : descíamos correndo pelas escadas pra ver quem chegava primeiro para pegar a manga ao ouvirmos o barulho do cair do fruto, ao chão. Ou quando jogávamos sandálias para acertar aquela manga espada amarelinha, à frente das janelas, lá do terceiro andar, do "Castelinho". Aquele movimento de correr, descer e subir as escadarias, era pura vida.
Ou na cozinha coletiva, com fogões gigantes, a preparar alimentação em ricas receitinhas afetivas.. E as madrugadas de leituras, debates, comunhão de sonhos coletivos.
Ou quando conversávamos com os funcionários, que guardavam os materiais de manutenção/limpeza na dependência anexa (com diversos quartinhos) aos fundos do prédio principal.
Hoje, parte dessa estrutura da R3 está em ruínas e, do que pude observar, ainda dá tempo de correr em esforços coletivos, para cuidar do bem comum.
A R3 não pode, não deve continuar se acabando. Que o novo Reitor, Paulo Miguez, a Comunidade Acadêmica e cidadãos comprometidos com a Memória se sensibilizem para providências, cuidados, urgentes desse patrimônio arquitetônico, cultural, memorial afetivo.
Como pode?
É inacreditável se pensar que possa haver alguma justificativa de falta de recurso para se fazer a conservação/manutenção mínima diária: limpeza, troca de algumas telhas, vazamentos...
Quando não se faz esse compromisso constante é certo que o tempo/espaço e seus agentes: o vento, o sol, a chuva, o descuido no jeito, na forma até de limpar/reparar, pode danificar a estrutura e, dia a dia, se acabar.
Mesmo fortes e bem feitas como foram os projetos originais das Residências Universitárias-UFBA e tantos outros equipamentos públicos em Salvador, Bahia, é importante preservar. Cuidado é inteligência divina.
Com um turbilhão de emoções, memórias e o evidente descaso patrimonial, naturalmente comovida comecei a chorar. De indignação, incredulidade, revolta... enquanto olhava, cuidadosamente, e sentia o estado de abandono, descaso, descuido, desperdício cultural com o que nós, residentes R3, chamávamos de
" nosso palacete".
Uma obra arquitetônica, cultural, histórica, de valor imensurável na vida de quem ali viveu, visitou, apreciou ou sabe dar valor.
Precisamos fazer algo e urgente.
A História não merece tanto descaso.

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