O desabamento do teto da igreja de São Francisco, seguido de morte e feridos, veio evidenciar, definir e catalisar uma situação de desastre há muito anunciado para todo o patrimônio da Bahia. Em matéria de conservação, a situação é catastrófica. Nada ou muito pouco se restaura, e quando se restaura, o resultado pode ser pífio.
Alguns devem
se lembrar de meus protestos acerca da Rua Direita de Santo Antônio, quando a
Conder terceirizou a requalificação para uma empresa sem qualquer experiência para
tamanha responsabilidade. Não cabe aqui descriminar os absurdos. O resto do
centro histórico está em total abandono desde os anos 90.
O desleixo é
marca registada da esmagadora maioria de nosso patrimônio. O Teatro Castro
Alves, o Elevador Lacerda, Solar Boa Vista, Museu do Cacau, Centro de
Convenções, Abelardo Rodrigues, Mercado do Ouro, Jandaia, Excelsior, encosta do
Santo Antônio, Udo Knoff, Wanderley Pinho, Frans Krajcberg... a lista é longa,
muito longa.
Em harmonia
com a incompetência da estatal, temos as tristes intervenções da Fundação Mário
Leal Ferreira, que se permite destruir o terminal do Aquidabã para colocar meia
dúzia de barraquinhas que nem sanitário têm, e enfeita a Conceição da Praia com
um caixão de concreto que mais parece um bunker da Primeira Guerra Mundial. Mas
para cuidar das marquises do Comércio prestes a cair ou a Coelba afastar das
fachadas os postes perigosamente carregados, aí não tem arquiteto ou engenheiro
com tempo suficiente. Em caso de uma ou mais mortes, entre o Ipac, o Iphan, a
Codesal e outras secretarias, assistiremos, mais uma vez ao costumeiro
empurra-empurra.
E a cultura?
Quem, por exemplo, hoje se
lembra da III Bienal Internacional da Bahia? Aconteceu em 2014. Nossos
responsáveis (sic) deixaram perder o espaço temporal de cinco (5) bienais. Não
por falha da curadoria do Marcelo Rezende, quando diretores de museus vieram
até da Europa e dos EUA. Roger Buergel (Documenta-Kassel), Yilmaz Dziewior
(Museu Ludwig-Zurich), o curador cubano Geraldo Mosquera, a crítica Lisette
Lagnado e outros.
Apesar dos
participantes da Bienal serem baianos em 80%, não faltaram comentários rançosos
de quem preferia uma bolha bem provinciana e um tanto xenófoba. Lembremos o
destaque para prestigiar Juarez Paraíso, Juraci Dória e Rogério Duarte. Para
alguns baianos, o evento serviu de trampolim para uma divulgação a nível
internacional, como Tiago Sant´Ana e Airson Heráclito. Mas a bienal não se
limitou à costumeira gentrificação Corredor da Vitória / Campo Grande / Solar
do Unhão. Foi até ao subúrbio com o Acervo da Laje e ocupou o Arquivo Público
da Quinta dos Lázaros.
Sintomático é o Museu de Arte Moderna ser hoje mais uma casa
de eventos. E haja decibéis!
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde, sábado15 fevereiro 2025
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