Sidney Poitier tinha apenas 20 anos, lavava pratos na cidade de Nova York, com apenas o terceiro ano de escolaridade e lutava para ler palavras com mais de três sílabas.
Recém-chegado das Bahamas, ele perdeu o emprego de lavador de louça e, enquanto folheava um jornal, notou um anúncio: “Procuram-se atores”. Algo na palavra queria parecia um convite. Ele não tinha experiência, mas apareceu mesmo assim. Quando ele entrou na audição, um homem grande lhe entregou um roteiro. Poitier lutou para ler cada palavra, seu forte sotaque caribenho e sua confiança instável. O homem não se conteve – agarrou Poitier pelo colarinho, empurrou-o para fora e disse: “Pare de desperdiçar o tempo das pessoas. Você não sabe ler e não sabe atuar. Volte a lavar a louça.
Humilhado, Poitier caminhou até o ponto de ônibus, repetindo as palavras em sua mente. Então algo o atingiu. Como aquele homem sabia que eu era lavador de pratos? Ele percebeu que naquele momento havia sido rotulado, descartado e definido pelo que os outros pensavam que ele poderia ser. Naquela noite, ele tomou uma decisão: vou me tornar ator – não pela fama, mas para provar que ele estava errado. Para provar que sou mais do que ele vê. Poitier continuou lavando pratos para sobreviver, mas também trabalhou consigo mesmo.
E num restaurante onde ele trabalhava como limpador de prato conheceu um senhor Judeu velhinho que trabalhava como garçom que decidiu ajuda-lo a ler bem e todas noite o restarante fechava e os dois ficavam por muito tem ficavam la estudando e praticando esse foi um dos melhores treinamente que ele teve na vida.
Ele fez um teste para o American Negro Theatre no Harlem, mas não sabia que os atores estudavam roteiros - então, em vez disso, memorizou um artigo aleatório da revista True Confessions. O teatro o rejeitou, mas ele se recusou a ir embora. Ele se ofereceu para ser o zelador de graça — apenas para ficar no quarto. Meses depois, embora ainda com dificuldades, foi demitido novamente.
Sem que ele soubesse, três colegas estudantes viram algo nele. Eles imploraram ao instrutor-chefe, que relutantemente nomeou Poitier como substituto para o papel principal. Foi um papel que ele nunca deveria desempenhar – mas o destino tinha outros planos. O ator principal, Harry Belafonte, faltou à apresentação. Naquela noite, Sidney Poitier subiu ao palco. Na plateia estava sentado um produtor, que lhe ofereceu seu primeiro pequeno papel. A ascensão de Poitier não ocorreu da noite para o dia. Ele assumiu todos os papéis que pôde, mas se recusou a interpretar personagens que não tivessem dignidade. Em 1954, foi-lhe oferecido um papel no cinema com um contracheque de US$ 750 (equivalente a US$ 7.000 hoje) – desesperadamente necessário, já que ele devia ao hospital US$ 75 pelo nascimento de sua filha. Mas quando leu o roteiro, ele recusou. Seu personagem, um zelador, presenciou um crime, mas ficou em silêncio. Ele disse ao seu agente: “Não posso jogar isso. Um pai nunca aceitaria isso. Eu não farei isso. Em vez de aceitar o dinheiro, Poitier penhorou os móveis para pagar a conta do hospital e voltou a lavar a louça.
Meses depois, o mesmo agente, Martin Baum, convidou-o para ir ao seu escritório e disse: “Não entendo por que você recusou esse trabalho, mas quero representar qualquer pessoa que acredite tanto em algo”. Baum tornou-se seu agente e o resto é história. Poitier voltou a fazer história em 1968, durante as filmagens de No Calor da Noite. O roteiro exigia que seu personagem, um detetive negro, levasse um tapa de um homem branco – e simplesmente ficasse ali em silêncio. Poitier recusou. “Isso não é o que um homem faria. Se você me quiser, eu dou um tapa nele de volta. Ele conseguiu que o estúdio concordasse e o momento se tornou uma das cenas mais poderosas da história do cinema. De lavador de pratos demitido ao primeiro negro a ganhar o Oscar de Melhor Ator, Sidney Poitier não apenas mudou Hollywood - ele mudou a forma como as pessoas se viam. “Quem eu sou é filho do meu pai. Vi como ele tratou minha mãe e minha família. Sei ser um ser humano decente.” Um legado construído com base na integridade, na resiliência e na coragem de nunca aceitar limites. Estranho, mas é verdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário