Sobre os ataques ao IPHAN em função do desabamento do forro da Igreja de São Francisco, em Salvador:
Não havia indícios de que o forro estivesse para desabar até a última segunda-feira e, segundo a lei em vigor no país, a Ordem franciscana, por ser a proprietária do bem, é a responsável legal pela sua conservação, não o IPHAN.
Se o dirigente da ordem viu que o forro estava cedendo, deveria ter alertado o IPHAN da urgência da questão (ele poderia ligar diretamente para o Superintendente do IPHAN na Bahia) e não simplesmente protocolar um ofício que, pela burocracia e alta demanda, leva pelo menos um ou dois dias para chegar nas mãos do dirigente. Deveria também ter acionado a Defesa Civil e deveria ter fechado imediatamente o templo à visitação.
O IPHAN virou a Geni: todos agora atiram pedras e bosta no órgão que não conta com recursos humanos nem financeiros em escala suficiente para dar conta do desafio. Na Bahia, por exemplo, o IPHAN tem apenas 10 profissionais de arquitetura e engenharia (altamente qualificados, mas mal remunerados) para dar conta de milhares de imóveis tombados espalhados por um território do tamanho da França. Só no Centro Histórico de Salvador, são cerca de 4 mil imóveis! E tem bens tombados espalhados por Porto Seguro, Monte Santo, Mucugê, Lençóis, Igatu, Rio de Contas, Cachoeira...
É absolutamente impossível dar conta disso com esse efetivo! Fui servidor do IPHAN de 2005 a 2009 e represento o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) no Conselho Consultivo do IPHAN desde 2014, portanto conheço bem a realidade do órgão.
O discurso anti-IPHAN é o discurso do liberalismo, do estado mínimo e do desprezo pela cultura, portanto o contrário do que eu acredito.
Espero que a atenção que o IPHAN tem tido nos últimos dias faça com que os governantes e a sociedade garantam os recursos necessários para que o órgão possa cumprir decentemente sua missão institucional.
Foto: Rodrigo Baeta
Nivaldo Andrade
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