Perdido no
meio de dunas parecendo nuvens, o aeroporto era tão lindo! Uma casa de fazenda
ao final de um bambuzal, três arcos acolhedores.
Em 1971 Salvador tinha pouco
mais de setecentos mil habitantes. Como não se encantar com este rosário de
praias quase desertas, pontuadas de coqueiros, águas límpidas, puxadas de rede,
um centro maltratado, mas com tanta vida, sorriso natural, mesmo que desdentado,
em todos os rostos, trios nordestinos espalhados, repentistas com malícia e
risada, uma Barra sem edifício exceto o Oceania?
Nada de baianas “de receptivo”,
capoeiristas de cara amarrada exigindo dólares, guias improvisados falando
aconcáguas de besteira...
Onde desapareceu
esta cidade? Quem a abocanhou para nos devolver uma americanice sem história? Como
foi parar entre as mais violentas do mundo? Em quatro décadas o rolo-compressor
da mediocridade elegeu o aeroporto de Salvador como o pior do Brasil, agora
entregue por um governo “Tudo pelo social” a uma multinacional.
As barracas de
praia, que durante anos pagaram impostos, de repente consideradas ilegais e
violentamente derrubadas, mas nem por isso, indenizadas. Hoje alguns cubos de
vidro, sem a mínima identificação com uma terra que já foi tropical, salpicam
um litoral de ruínas e esgotos.
Depois de mais de um ano, o governador ainda
não resolveu onde iria construir o novo Centro de Convenções, se na Boca do
Rio, no Comércio ou na Paralela. Do Cineteatro Jandaia, tampouco sabe o que
decidir. Até ofereceu a tarefa ao Carlitos Marrón que nem consegue administrar
o antigo Mercado do Ouro.
Três anos após o incêndio talvez agora a Secretaria
da Saúde do Estado venha a ser reformada. Outra vítima das chamas em 2012, o
Museu do Cacau deveria ter sido reformado para a Copa do Mundo... Pérola
barroca da Bahia, o convento de São Francisco está caindo aos pedaços,
começando pelos azulejos.
Impotentes,
assistimos às briguinhas de poder, lá no alto. Um quer o BRT para agradar aos
empresários de transportes que não estão nem aí pelo conforte do contribuinte,
e massacra os permissionários do Mercado Modelo. Outro não hesita em sacrificar
um dos mais belos paisagismos da cidade para implantar um metrô que já nasceu
velho.
O Centro
Histórico, o Comércio, a Saúde, a Lapinha, a Península de Itapajipe, estão na
UTI, mas quem se importa? Salpica-se a cidade com museus sem conteúdo nem
verba. E como poderia ser diferente se jamais se vê prefeito, deputado,
secretário ou governador nenhum em sala de concerto, assistindo a uma peça de
teatro, um balé, futucando prateleira de livraria, entrando em cinema ou
vagueando em exposição de arte?
Gente,
quando vim pra cá, comprei uma Bahia charmosa, poética, sensual... Onde está
ela? Quem me passou a perna?
Muito bom, viajei no tempo !
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