Em 30 de
novembro publiquei no meu blog mais uma notícia elogiosa sobre Portugal. Desta
vez a respeito da escolha de Lisboa pela Comissão Europeia como Capital Verde
2020. É, sem dúvida alguma, mais um excelente motivo para atrair os doze
milhões anuais de turistas.
Estive lá em
setembro passado e me deslumbrei com a concretização, cada vez mais óbvia, da
vontade política de realizar o velho sonho da cidade no campo. São raros os
espaços públicos e privados que não apresentem uma orgia de árvores, plantas e
flores, em qualquer estação do ano. Fotografar tornou-se fastidioso.
Mesmo com
tanto verde – e com certeza por causa dele - entre 2004 e 2017 o consumo de
água diminuiu em 46%. Até 2030, o município tenciona reduzir em 60% as emissões
de dióxido de carbono. A proposta é de que
cerca de 85% da população viva a menos de 300 metros de um espaço verde com
pelo menos 2.000 metros quadrados. A filosofia municipal, oficialmente anunciada, pode se
resumir a esta simples sentença: “Menos carros, mais árvores”.
Como evitar
a comparação com a política, não somente da prefeitura de Salvador, mas também
do governo do Estado, onde se derrubam árvores centenárias para construir
viadutos tentaculares e abrir mais avenidas onde havia resquícios da mata
atlântica?
Tive, dias
atrás, uma traumática experiência com a prefeitura, experiência que vou contar
agora. Sobrando mudas de palmeiras imperiais no meu pequeno jardim, resolvi
doar oito delas com a condição que fossem plantadas no largo de Santo Antônio,
mais especificamente do outro lado do gradil que separa o largo da encosta. Uma
palmeira por trás de cada pilastra iria formar um elegante conjunto emoldurando
a vista sobre a baía sem obstruí-la.
Uma equipe da
prefeitura veio retirar as mudas para plantá-las no espaço que tornei a definir,
explicitamente, aos piões. Nenhum responsável da Secretaria de Meio-Ambiente
acompanhou o processo.
No dia
seguinte, uma certa Bete me telefona. As palmeiras tinham sido plantadas e
pessoas da comunidade se comprometiam em molhá-las. Perguntei se estavam bem no
espaço decidido. “Bem... Algumas foram plantadas na encosta, mas outras foram
colocadas no largo mesmo. Ficou muito bonito...”
Resolvi ir
até o local. Passando o portão que dá acesso a encosta, constatei que absolutamente
nenhuma palmeira tinha sido plantada no local indicado. O triste abandono
indicava claramente que o terreno nem tinha sido preparado. Em contrapartida
havia montes de lixo que até hoje devem permanecer. Minhas palmeiras estavam
tapando buracos no projeto paisagístico (sic) da praça. Dona Bete tinha
mentido, me fazendo de otário. É assim que é tratado o pretenso embelezamento
da capital. Nas coxas.
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