Os jurados
chegando. São muitos. De propósito. Antropólogos,
artistas, fotógrafos, jornalistas, músicos. Formadores de opinião. Mais uma
turista e alguém dentre o sempre numeroso público. A todos é distribuída a
mesma camiseta que mais tarde será também distribuída aos concorrentes. Aqui
todos são iguais. Esta camiseta ostenta sempre uma ilustração concebida
especialmente por conhecido artista, seja local ou estrangeiro.
A rotunda do
Mercado Modelo vai enchendo de cor, alegria e expectativa. A inscrição é
simples e rápida. A cada vendedor de café é atribuído um número que será
colocado em evidência no carro. Os canais de televisão instalaram suas câmeras.
Hoje o evento será transmitido até o Uruguai e o Japão, sem contar o Fantástico
da Globo.
Mesmo assim,
arrancar das autoridades ou patrocinadores a modesta quantia de aproximados dez
mil reais é para mim sempre um calvário. Acabarei tirando algo de meu bolso.
Encomendei mocós na feira de São Joaquim, evitando assim o abuso de sacos de
plásticos e ajudando o artesanato do Recôncavo. Lá estão, cheios de garrafas
térmicas, pacotes de café, chocolate, açúcar, latas de leite em pó e os
incontornáveis copinhos descartáveis.
Esta foi
minha briga por mais de 20 anos ao organizar estes concursos de carros de
cafezinho, maravilhosa expressão de cultura popular tão específica de Salvador.
O último foi com o apoio do Paulo Costa Lima, então presidente da Fundação
Gregório de Matos.
Assim que minha
emoção foi grande ao presenciar, em fim de
setembro, o mestrando Eduardo Fróes detalhar seu trabalho de pesquisa sobre a
atividade dos ambulantes que vendem café nas ruas e praças de nossa capital. No
oitavo andar da Associação Baiana de Imprensa com vista privilegiada sobre a
praça da Sé, compareceu um público de amplo leque social. Desde o vice-reitor e
professores da universidade até vendedores de café.
Eduardo
demostrou a seriedade de seu trabalho, mas também sua extrema sensibilidade ao
abordar a expressão de uma das classes mais desfavorecidas do povo baiano. No
final, deixou escapar uma forte emoção, sem adivinhar que, na plateia, havia um
velhinho tão comovido quanto ele ao lembrar estes anos de luta contra o preconceito
dos “rapas” da prefeitura e das empresas temerosas de ver seu nome ligado a tão
humilde trabalho.
Fica, para
mim, a lembrança destes eventos quando, por algumas horas, estes pés-de-chinelo
que levantam de madrugada, andam quilómetros no calor ou na chuva para
assegurar o sustento de suas famílias e, de repente, se transformavam em
alegres reis da cidade. O mais importante para mim foi dar-lhes um pouco da
dignidade humana que, mais que o pão quotidiano, tanto lhes faz falta.
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