terça-feira, 21 de julho de 2020

O EXEMPLO MARROQUINO

Marrocos elogiado internacionalmente na luta contra Covid-19

Há dois meses que Marrocos se encontra em estado de emergência. As fronteiras estão fechadas e nas ruas a polícia e os militares controlam o recolher obrigatório. País regista cerca de 7.000 casos positivos e 197 mortes.
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À  semelhança de grande parte dos países do continente africano, também em Marrocos o sistema de saúde é fraco. Razão pela qual o país optou por antecipar a chegada da Covid-19. "Vimos que países como a França, a Espanha ou a Itália tomaram decisões demasiado tarde. Marrocos decidiu antecipar-se porque sabia que o sistema de saúde não conseguiria lidar com uma inundação de casos", explica Tayeb Hamdi, presidente da Associação Médica Marroquina.
"O recolher obrigatório ajudou a controlar a situação - pode dizer-se que conseguimos aplanar a curva. Neste momento, a situação nos hospitais é calma. A taxa de mortalidade desceu", acrescenta Tayeb Hamdi.
"A capacidade dos hospitais está longe de estar esgotada", afirma Mohamed El Youbi, chefe do Departamento de Epidemiologia e Controlo de Doenças do Ministério da Saúde do país. É a este homem, também conhecido como o "Sr. Corona" de Marrocos, que tem estado entregue a missão de informar a população sobre o curso da pandemia.
Segundo Mohamed El Youbi, atualmente, apenas 23% dos casos nos hospitais são de pacientes com Covid-19. "Os casos graves, que diminuíram significativamente nas últimas semanas, representam 13% das camas de cuidados intensivos, estando a ser disponibilizados ventiladores aos casos particularmente graves", explica.
Marokko Rabat | Coronavirus | Marokko im Lockdown
Militares controlam o recolher obrigatório em Rabat

Números baixos e medidas controversas
Quando comparados com outros países, os números oficiais do coronavírus em Marrocos são baixos. Com 35 milhões de habitantes, o país regista cerca de 7.000 casos positivos e 197 mortes. No entanto, testou apenas cerca de 100.000 pessoas.
Mas o preço a pagar pelas medidas preventivas adotadas é elevado, principalmente no que diz respeito à economia. Por isso, o Rei Mohammed VI anunciou um pacote de mais de três mil milhões de euros para ajudar a população.
Um montante que, de acordo com o economista Rachid Aourraz, está longe de ser suficiente. "Temos normalmente três pilares de divisas (no país): as remessas dos marroquinos para o estrangeiro, o turismo, que foi totalmente interrompido, e as nossas exportações para o estrangeiro. As três fontes estão em crise", sublinha.
Para além do recolher obrigatório, que tem sido alvo de algumas críticas, o país adotou outras medidas controversas, que segundo as organizações de direitos humanos são questionáveis. Uma delas é a utilização de drones por parte das autoridades. 
"Os drones são utilizados para diversos fins, como por exemplo, a sensibilização nas ruas através de altifalantes. Detetam pessoas que não respeitam o recolher obrigatório e também desinfectam locais públicos. No futuro, serão ainda capazes de detetar pessoas com temperaturas corporais anormais em locais públicos", afirma Yassine Qammous, diretor-geral da DroneWay Marroco.

Brasileira relata rotina no Marrocos com 'lockdown' para conter pandemia: 'Mais segura aqui'

Atualmente, situação no país africano está controlada. Situação no Marrocos chama atenção pelo número de casos, recuperados e óbitos


Lilian Haddad mora com o marido há cinco anos no Marrocos — Foto: Arquivo Pessoal

A situação da pandemia do novo coronavírus no Marrocos chama atenção devido ao controle do número de casos e mortes e também por conta das medidas rígidas adotadas desde março. No país africano, há um caso confirmado da doença para cada 3.500 habitantes, aproximadamente. Enquanto isso, o Brasil registra um caso a cada 194 pessoas. Os dados foram atualizados nesta segunda-feira (22).
A santista Lilian Haddad, de 35 anos, mora na cidade de Marrakesh há cinco anos e conta que todo o país decretou lockdown em 16 de março, sistema que segue até hoje com algumas flexibilizações. A quarentena foi prorrogada até 10 de julho, porém algumas lojas foram autorizadas a abrir e os restaurantes podem operar em sistema de delivery. Mesmo assim, é proibido andar na rua das 20h às 6h.
"É feito um controle rígido, com aferição de temperatura e distanciamento social. As rodoviárias e aeroportos estão suspensos no país e só pode trafegar nas rodovias quem tiver uma autorização especial. Aqui, quem quebrar a quarentena pode ser preso de um a três meses e ainda paga multa. Até 10 de junho a gente via o exército na rua, com tanques. Não era brincadeira não", explica Lilian.
Ela ainda explica que um grande efetivo policial foi colocado nas ruas para fiscalizar e orientar a população. Para passar pelas barreiras sanitárias, passear com o cachorro e até entrar em mercados, era preciso ter em mãos uma permissão do governo. Agora, porém, com a flexibilização, a situação está bem mais tranquila. Esse sistema rigoroso fez com que o país dominasse a pandemia.
"Quando entramos em lockdown o país não tinha nem 20 casos. Tivemos uma semana para nos organizar e depois fechou tudo. Acredito que estamos em vantagem por causa disso, 'logo de cara' foram suspensas academias, restaurantes, escolas, tudo mesmo. Faz parte da cultura do país obedecer as ordens. Por conta de tudo isso, me sinto muito mais segura aqui", garante.

Moradores respeitam a ordem do rei e mantêm cidades vazias durante a quarentena — Foto: Arquivo Pessoal
Moradores respeitam a ordem do rei e mantêm cidades vazias durante a quarentena — Foto: Arquivo Pessoal
Por ter um sistema de saúde pública precário, o país surpreendeu ao conseguir controlar rapidamente a Covid-19. Segundo informações do governo, divulgadas pelas redes sociais oficiais nesta segunda-feira, já foram realizados 538.667 testes na população. O Marrocos tem 10.079 casos confirmados8.319 recuperados e 214 mortes.
Isso representa um caso para cada 3.571 habitantes. Já no Brasil, que conta com 211 milhões de habitantes e 1.087.185 casos, segundo consórcio de veículos de imprensa, há um caso de coronavírus para cada 194 pessoas. Os dados ficam ainda mais surpreendentes se considerar os números apenas de Santos, no litoral de São Pauloque conta com um caso para cada 56 habitantes.

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