Bahia já autorizou o desmatamento de 34.307,712 ha durante a pandemia
O
Estado da Bahia autorizou o desmatamento de 34.307,712 hectares desde a
data de decretação oficial do isolamento social (20/03) até a última
sexta-feira (26/06). O dado faz parte de um levantamento realizado pela AATR,
que também identificou que 76,70% (26.315,2478 ha) deste total é
destinado para o agronegócio, sendo que 66,55% (22.831,7671 ha) trata-se
de vegetação nativa do cerrado, área integrante da região compreendida como MATOPIBA.
As
áreas de cerrado em pé, cujo desmatamento foi autorizado, são áreas
tradicionalmente ocupadas por povos e comunidades tradicionais que dependem
diretamente do cerrado para a sua própria existência. “A cultura do uso das terras coletivas, das soltas,
das largas - hoje fecho, fundo de pasto - vêm sofrendo grandes ameaças. Nós
temos essa tradição do uso dos vales, todos eles têm as partes agricultáveis
embaixo e os chapadões em cima, áreas de recarga que eram usadas antigamente
para o pastoreio do gado, mas perdemos a maioria delas. É um modo de vida
atacado pelos grandes projetos, como a monocultura do eucalipto, soja e
pecuária. Muitos pagaram com a vida por resistir a esse modelo devastador’, explica
Jamilton Magalhães, do Coletivo de Comunidades de Fundo e Fecho de Pasto do
Oeste da Bahia, que também destaca a falta de apuração das autoridades locais
frente as violências cometidas contra as comunidades.
Além
do agronegócio, a exploração mineral tem sido um desafio para os territórios
tradicionais. Segundo Valdivino Rodrigues, da Articulação Estadual de Fundos e
Fechos de Pasto, as empresas não pararam de funcionar na região de Uauá,
Canudos e Curaça. “A maioria dos trabalhadores são das
comunidades e são obrigados a ir todos os dias para o trabalho e nesse ambiente
ficam expostos a contaminação, é muita aglomeração. Nossa preocupação é que
essas pessoas sejam infectadas e espalhem o vírus para as famílias", explica.
“Mineração
é considera como atividade essencial. Essencial a quem? ao que? Pra nós o essencial
é a vida, manter as comunidades vivas, as pessoa saudáveis. O essencial é
garantir o respeito aos territórios tradicionais, fazer com que as famílias não
se contaminem”,
afirma Valdivino.
DADOS
- O levantamento também aponta que neste
período foram emitidas pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos
(INEMA) 150 licenças, autorizações ambientais e autorizações de
supressão de vegetação. É importante destacar que parte dessas intervenções
precisa de estudos técnicos para execução, o que tem provocado a circulação de
equipes das empresas nos territórios.
Das
150 emissões, 55 (36,66%) foram voltadas para o agronegócio, sendo 10
destas para a monocultura do eucalipto (6,66%). O segundo setor beneficiado com
mais outorgas foi a produção de energia com 31 (20,66%), sendo: 19 para
energia eólica (12,66%), 07 para a construção de linhas de transmissão (4,66%),
04 para energia solar (2,66%) e 01 para energia elétrica (0,66%). As
indústrias, incluindo a indústria química e petrolífera, receberam 28
autorizações (18,66%), seguidas pela exploração mineral com 23 (15,33%)
e o turismo com 10 (6,66%) - sendo 09 destas destinadas para construção
imobiliária. O setor de construção civil, infraestrutura e abastecimento e
saneamento alcançaram 0,66%, cada.
“Em
Canudos, a energia eólica traz muita gente de fora. Se instalam nas comunidades
e não respeitam o modo de vida, ao ponto que as comunidades se sentem obrigadas a fazer o papel do Estado instalando suas próprias barreiras sanitárias,
para que pessoas de fora não entrem no território. Muitas vezes essas atitudes
necessárias acabam sendo criminalizadas e viram caso de polícia, a exemplo do
Bom Jardim, onde a comunidade está fazendo o que seria obrigação do poder
público: zelar pela saúde, pela vida das pessoas”, explica Valdivino, que também partilha
que a associação oficiou o poder público sobre a situação, mas não obteve
nenhum retorno.
Os
dados do levantamento foram colhidos através das publicações disponíveis no
Diário Oficial da Bahia.
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