segunda-feira, 16 de agosto de 2021

FERNANO PESSOA, SALAZAR E A COCA-COLA

 

Quando a Coca-Cola tentou derrubar Salazar

Sobre a chegada a Coca-Cola a Portugal existem diversas lendas e rumores que parecem demasiado fantasiosos para serem verdade. Descubra algumas dessas curiosidades.


Sobre a chegada da Coca-Cola a Portugal, existem um conjunto de teorias e mitos, cada um mais interessante que o outro. Por exemplo, atribui-se a Fernando Pessoa a criação do seu slogan publicitário, e que ficou célebre: “primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Uma frase que ficou célebre e que se generalizou de tal forma que, hoje em dia, muitos a utilizam mas poucos sabem que a criou.

Sobre esta suposta criação do slogan por Fernando Pessoa há apenas uma fonte, num artigo publicado em 1982 pelo filho de um comerciante que importou a Coca-Cola, até ela ter sido proibida em 1927 por Ricardo Jorge, na altura responsável pela saúde pública do país.

Não nos podemos esquecer, afinal, que a Coca-Cola surgiu como resposta ao vinho italiano Marianni, que tinha cocaína na sua composição. Até 1929, a cocaína resistiu como ingrediente na composição da Coca-Cola, pelo que se justificava a decisão das autoridades de saúde em não permitir o seu consumo, numa atitude bastante progressista para a época.

Fernando Pessoa, autor do slogan da coca-cola

Diz-se popularmente que, já em pleno Estado Novo, a empresa voltou à carga, tentando comercializar os seus produtos em Portugal. Segundo algumas histórias, o concessionário da empresa na Península Ibérica, um russo de ascendência americana, radicado em França, tentou por todos os meios convencer Salazar a permitir a comercialização da bebida, tentando inclusive o suborno.

Segundo se diz, o presidente do Conselho mandou os seus seguranças escoltarem o dito senhor até ao aeroporto imediatamente, embora não haja provas de que esta história seja de facto verídica.

Outro mito que envolve este período e a Coca-Cola é o de que esta empresa financiou a campanha eleitoral do General Humberto Delgado em 1958, tendo estado envolvida também a CIA na conspiração. Talvez este mito se deva ao quão revolucionária a campanha de Humberto Delgado foi, mas a verdade é que não se sabe ao certo onde surgiu esta teoria. 

O que se sabe sem dúvidas é que a Coca-Cola entrou legalmente no nosso país em 1977, 49 anos após a primeira tentativa. Nas colónias, no entanto, este produto era já consumido há mais tempo. Aliás, existia em Angola uma empresa com autorização para engarrafar a bebida (recebia o extrato de cola vindo dos Estados Unidos e apenas adicionava água e açúcar).


A entrada da Coca-Cola em território nacional não deixou de ser vista com desconfiança pelos comunistas, que agitaram as suas bandeiras contra o imperialismo americano. Mesmo assim, a Coca-Cola acabou por conseguir entrar no mercado nacional, aproveitando a maior abertura do nosso país ao exterior.

Humberto Delgado: o General Sem Medo

A histórica campanha do General Humberto Delgado merece aqui uma menção honrosa. Era já norma a oposição aproveitar os raros períodos eleitorais como forma de campanha contra o regime, organizavam-se assim comícios e distribuía-se propaganda, dentro das limitações que lhes eram impostas. Normalmente, pouco antes do dia das eleições, os candidatos acabavam por desistir. Foi o que aconteceu em 1949 com Norton de Matos, e em 1951 com Quintão Meireles, sendo previsível que o mesmo se viesse a passar com Humberto Delgado.

Mas é aqui que o General se destaca. Profere uma frase surpreendente e garante que vai até ao fim nas eleições. Esta célebre frase foi proferida a 10 de maio de 1958, numa conferência de imprensa realizada no café Chave D’Ouro. O jornalista Lindorfe Pinto Basto, da France-Press, questiona o que o General faria ao presidente do Conselho, se fosse eleito Presidente da República. Sem hesitar, Humberto Delgado respondeu: “obviamente, demito-o!”.


O que hoje seria banal no discurso político foi na altura uma verdadeira bomba, que criou ânimo nos defensores do regime, que consideravam que aquela afirmação liquidava Delgado em termos eleitorais, já que o país supostamente não tolerava que se tocasse em Salazar. Mas a garantia de que ia até ao fim e a sua coragem em enfrentar Salazar despertaram um entusiasmo sem precedentes, como nunca tinha existido em eleições anteriores.

Humberto Delgado correu o país, indo a locais onde não era habitual ver-se um candidato a Presidente, e foi sempre recebido por banhos de multidão que o aclamavam, seguidos de confrontos com a Polícia. 

A oposição desconfiou inicialmente de Delgado, sendo que o PCP chegou a achar que este se tinha candidatado em conluio com Salazar e os serviços secretos americanos e ingleses para dividir a oposição. Mas Humberto Delgado acaba por vencer barreiras e conseguir um leque de apoiantes que iam dos comunistas aos antigos nacional-sindicalistas, passando pelo apoio dos velhos republicanos e dos monárquicos.

Assim, Humberto Delgado surpreendeu o regime, quebrou rotinas entre a oposição e conseguiu reunir, a cada passagem sua, dezenas ou centenas de apoiantes da sua candidatura.











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