quinta-feira, 26 de maio de 2022

HOJE TEM FESTA!

 Hoje tem festa na Aliança Francesa!


Bem.... Não sei se será para os outros, mas para mim, uma baita festança. Lançarei oficialmente, após um ano de atraso, o livro “Alegria, café quentinho”, publicado com o apoio da Fundação Cultural do Estado da Bahia. Foram doze meses difíceis. Além do terremoto da Covid, a queda – de minha rede, vejam o absurdo! –  me quebrando o fêmur, prelúdio de algumas horas de puro inferno.

 O livro trata de um trabalho de vinte anos com os carrinhos de café, expressão popular única de Salvador. Nem no resto da Bahia, do Brasil e do planeta existe algo parecido. Só comparável, os nossos com mais criatividade, aos engraxates de Istambul e vendedores de água de Marrakesh.

Registro do gênio do povo soteropolitano, mas também obra de arte editorial graças ao talento da programadora visual Maria-Helena Pereira da Silva, aos textos do Paulo Miguez – torcendo para que seja o próximo reitor da Ufba – do jovem pesquisador Eduardo Froes e do cordelista e velho amigo Franklin Maxado. Ilustrado, como era de se esperar, com muitas fotos. Da calejada Isabel Gouvea, da bordadeira Ludmila Mueller Leal, do André Jolly, fundador desta mesma AF, e várias minhas.

Em complemento, outro antigo sonho completará o evento. A exposição de fotos de minha autoria sob o tema “Áfricas”. Porque o plural? Porque este continente é, como a Europa, América e Ásia, uma colcha de retalhos de culturas muito diferentes umas das outras. Apresentarei algumas imagens de Marrocos, o país que me viu nascer, da Argélia, do Egito, bem modestas, quando ainda usava uma simples “lata de sardinhas”, e outras de Lalibela na Etiópia onde estive em 2019 durante a Pascoa ortodoxa. Mas o essencial da mostra será de fotos produzidas com um modelo baiano de alguns dos objetos africanos de minha coleção.

Chegando perto de meio século de participação na dinâmica cultural da Bahia, gostaria que este duplo evento fosse o início de outras manifestações lembrando minha contribuição - desmedida arrogância de minha parte? - sempre no campo da memória e da cultura. Durante mais de trinta anos, nas minhas galerias e em eventos por outros continentes, divulguei artistas brasileiros então ignorados pelas galerias e colecionadores, hoje reconhecidos no mercado de arte, alguns até internacionalmente.

Aproveito a oportunidade para lembrar o precioso apoio do curador Marcelo Rezende, responsável pela III Bienal da Bahia – os sucessivos governos foram incapazes de continuar - quando este deu especial destaque à minha casa no bairro de Santo Antônio, programando uma série de exposições no MAM sobre o tema dos gabinetes de curiosidades. Com sua saída, o projeto ficaria engavetado.

Resta a esperança deque algum espaço em algum momento...

Dimitri Ganzelevitch

A Tarde, sábado 28 de maio 2022


O OLHO E O OLHAR DE DIMITRI

 O que fascina em Dimitri é seu olhar, como pessoa e como fotógrafo. Como pessoa, Dimitri tem um olho agudo e, apesar da idade avançada, enxerga muito bem sem nunca usar óculos. Talvez mais importante, Dimitri mantém o olho espantado e maravilhado de uma criança, nunca irônico, raramente cansado e nunca “blasé”. Essas qualidades obviamente alimentam seu trabalho como fotógrafo.  Ele vê coisas às quais a maioria de nós não prestamos atenção: a textura de uma parede, a posição de uma árvore, a mera beleza de uma pedra, o ângulo de um prédio, a peculiaridade de uma sombra. Dimitri não anda com uma máquina sofisticada, mas com uma câmera simples que lhe basta já que seu olho identifica elementos melhor do que uma lente de ultima geração. 

Eu enxergo bastante semelhanças entre o trabalho de Dimitri e o do famoso fotógrafo Húngaro-Francês Brassaï: sua capacidade de extrair a essência de um lugar em poucos clichés, seu talento para fotografar esculturas, seu interesse em figuras pitorescas e prédios altos. Brassai foi também o primeiro a identificar a importância da fotografia na obra de Marcel Proust de quem se celebra o centenário neste ano. Em “A sombra das moças em flores”, Proust definiu a fotografia como “uma imagem singular de coisa conhecida, imagem diversa das que temos o costume de ver, singular e entretanto verdadeira, e que por esse motivo é para nós duplamente surpreendente porque nos assombra, faz que saiamos de nossos hábitos e, ao mesmo tempo, faz-nos entrar em nós mesmos ao nos recordar uma impressão.” 

O trabalho fotografico de Dimitri ilustra perfeitamente essa definição. 

Bernard Attal

Trapicheiro e Cineasta

 

 

 

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