terça-feira, 17 de maio de 2022

IPHAN AVACALHADO

 

IPHAN, avacalhado, acaba com a última Canoa de Tolda

 
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IPHAN, avacalhado, acaba com a última Canoa de Tolda

Ao escrever este post, lembrei-me de um episódio da infância que me custou 15 dias de castigo. Aconteceu quando usei, não sei por qual  motivo, o termo ‘avacalhado’ na mesa de jantar. Meu pai ficou horrorizado e me pôs de castigo, eu devia ter uns 10, 12 anos. É pesado mesmo, reconheço. Peço desculpas aos leitores. Mas não encontrei outro  para me referir ao IPHAN aparelhado por Jair Bolsonaro. Avacalhado é pouco para descrever que, o órgão que tombou a última canoa de tolda do São Francisco, a Luzitânia, acabou por enterrar este bem cultural da história náutica do País por pura burrice. A estupidez crônica que toma conta do País.

canoa de tolda
A beleza e raridade que não mais veremos devido ao aparelhamento do IPHAN. A bolina lateral foi inserida ao tempo dos holandeses no Nordeste. Imagem, canoadetolda.org.br.

‘A carcaça da canoa foi vendida’

Assim disse-me Carlos Eduardo Ribeiro, que salvou a Luzitânia em 1999, a restaurou, fundou uma ONG, e dedicou sua vida a fazer da última relíquia naval do Velho Chico um barco vivo que navegava garbosamente até janeiro de 2022 quando uma enchente a fez naufragar.

Por que Carlos agiu assim? Simplesmente porque é a mais bela e rica canoa do País, e a derradeira canoa de tolda do País. Uma relíquia naval.

Desde janeiro, escrevi um par de posts sobre o problema. O primeiro foi IPHAN nega ajuda à relíquia naval tombada logo depois de saber do naufrágio, e da negativa absurda do órgão que a tombou anos atrás.

Quando custaria para reparar a Luzitânia?

Segundo Carlos Eduardo, algo em torno de 200 mil reais seriam mais que suficientes para que esta extinção cultural fosse evitada. Uma merreca.

Interior da Canoa de tolda
O interior. Imagem, canoadetolda.org.br.

Mas o IPHAN do governo Bolsonaro foi aparelhado pelo que de pior havia em suas hordas, como o foram os órgãos de Cultura, da Educação, da Saúde, e do Meio Ambiente.

E só agiu depois que Carlos entrou na Justiça, e venceu. Ainda era o tempo em que a canoa estava tombada numa margem do rio e o órgão se negava a ajudar a retirá-la.

Briga na Justiça

Por decisão do Juiz Edmilson da Silva Pimenta, em Ação Civil Pública ajuizada pela Sociedade Socioambiental do Baixo São Francisco, Canoa de Tolda, tendo como réu o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN, o órgão foi condenado a:


“Efetuar em caráter de urgência, até o dia 31/01 através de pessoal qualificado e medidas seguras, a remoção da Canoa de Tolda Luzitânia do local em que se encontra para outro seguro (inclusive de saques de terceiros), para que a mesma seja retirada da água e possa permanecer em total segurança para que ocorra processo de secagem até que ocorram as indispensáveis ações de conservação…”

Alagamento da Canoa de Tolda
O alagamento da Canoa de Tolda em janeiro de 2022.Imagem, canoadetolda.org.br.

Mas, apesar disto, o IPHAN demorou a tomar uma decisão. Só em março a Canoa Luzitânia foi retirada do local do alagamento.

O IPHAN resistiu….Retirou a canoa mas não garantiu seu restauro

E ainda recorreu da decisão. No post escrevemos: “A partir de decisão da Justiça Federal, o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional contratou empresa que realizou a manobra de resgate e condução da canoa Luzitânia para local onde será retirada da água para as ações de reparo e conservação.”

A partir daí, tudo foi mistério.

Canoa de tolda Luzitânia, do baixo São Francisco, uma preciosidade naval em perigo

Este é o título de outro post publicado em 25 de janeiro, quando comentamos que o Brasil tem um dos mais ricos acervos de embarcações típicas ainda em atividade.

Um bem cultural que a vasta maioria das pessoas sequer sabe da existência; mas que existem, navegam, e foram valorizadas pelo IPHAN que as transformou em  bens culturais de um País que mal conhece sua história.

Canoa de Tolda
Imagem, canoadetolda.org.br.

O órgão não só tombou algumas embarcações, entre elas a Luzitânia, como lançou o Projeto Barcos do Brasil em 2008, com o objetivo de conscientizar o público, preservar e conservar o Patrimônio Naval brasileiro.

Projeto Barcos do Brasil, do IPHAN, atenção à página 13, aparece quem? A Luzitânia que a xucra Larissa Peixoto, atual presidente do órgão enterrou para sempre

Em seguida ao alagamento…

Conversamos com Carlos Eduardo que se mostrava desanimado. Entre outras lembrou que ‘não se importam com a cultura do País, não por outro motivo o Museu Nacional pegou fogo (2018) e foi destruído em razão do péssimo estado de conservação’.

Um tesouro da cultura popular brasileira

Enquanto isto, o especialista responsável pelo tombamento da Luzitânia, Dalmo Vieira Filho, ex-Superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Santa Catarina, e professor concursado do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), declarava:

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Esta embarcação é um verdadeiro tesouro da cultura popular brasileira. A Luzitânia é a última destas canoas que ainda resistem no São Francisco, (vale dizer) no mundo. Ela é um dicionário de soluções técnicas, de maneiras de construir barcos, e de navegar sobre um rio como o São Francisco. É de um valor inestimável.

O post também repercutiu as palavras de outro amante das embarcações típicas, o navegador Amyr Klink.

Com o desaparecimento da Luzitânia a gente sente uma espécie de amputação cultural

Para tentar salvá-la, Carlos Eduardo ainda lançou uma campanha para angariar fundos, mas não obteve respaldo da opinião pública, infelizmente.

Saiba mais sobre o patrimônio Cultural Naval, por certo desconhecido pela senhora Larissa Peixoto, atual presidente do avacalhado IPHAN

Você também encontra mais informações no livro Embarcações Típicas da Costa  Brasileira.

IPHAN não dá satisfações

Enquanto isto o somítico IPHAN não dava satisfações. Apenas levou a Luzitânia para um sítio abaixo de onde naufragou e a largou por lá. Nada de repará-la.

Lateral da canoa de Tolda
Imagem, canoadetolda.org.br.

Então, dias atrás mandei uma mensagem para o site Canoa de Tolda, perguntando como estavam as coisas.

Fiquei estarrecido quando, no dia seguinte, li: ‘A carcaça da canoa foi vendida. Fim da história de mais uma embarcação tradicional do Baixo São Francisco’, respondeu Carlos.

Esta foi a postura AVACALHADA do órgão aparelhado pelo boçal, mais que ignorante inquilino do Alvorada. O frouxo, inseguro, insignificante e morbígeno que incita seu povo à guerra.

É o fim! Não há palavras fortes o suficiente para qualificar a mesquinhez do IPHAN que negou algo em torno de 200 mil reais para a manutenção de um bem cultural por ele mesmo tombado.

Larissa Peixoto, presidente do IPHAN

Se você também se revolta com a decisão, mande um e-mail de protesto para: gabinete@iphan.gov.br.

No Instagram

Você também pode se manifestar no Instagram. O endereço é @IphanGovBr.

Saiba quem é Larissa Peixoto, presidente do IPHAN

Em 2021 Larissa foi afastada do IPHAN por ordem da Justiça Federal, depois de Bolsonaro (PL) demitir funcionários para favorecer o homem que usa ternos verde amarelos. O dono das lojas Havan.

Mas, pelo entendimento do desembargador, a retirada da gestora causaria ‘inegáveis prejuízos a atividades administrativas e às políticas públicas de competência da autarquia’. E Larissa voltou ao posto.

Prejuízos inegáveis é o que ela  faz equilibrando-se no cargo. Segundo o jornal O Globo, ‘Larissa Rodrigues Peixoto Dutra foi nomeada presidente do Iphan em 2020, após cinco meses em que o Instituto ficou sem titular.

Assista ao vídeo e saiba o que especialistas acham da Luzitânia




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