quarta-feira, 14 de setembro de 2022

SEM DESCANSO




Poucos sabem do excelente trabalho da Defensoria Pública na Bahia que, na última sexta-feira de agosto, organizou no MAM um debate sobre violência policial após apresentação do documentário do cineasta Bernard Attal analisando o desaparecimento do jovem Geovane. Um dos casos mais sórdidos da lista de crimes da PM, a maioria deles impunes até hoje. A presença do jornalista Bruno Wendel, autor das denúncias na imprensa baiana e do Wagner Moreira, do Movimento Negro, cujas colocações são sempre impactantes, definiram a importância do evento.

Oito anos se passaram, os três PMs –ladrões, torturadores, assassinos e esquartejadores – continuam livres e soltos sob a proteção da Secretaria de Segurança Pública da Bahia. E mais: um dos culpados mora no mesmo bairro que o pai da vítima. 

“Caso isolado”. 

Este é o chavão repetido à exaustão por aqueles que recusam cortar os membros podres da corporação. Da mesma forma que os três pastores pedófilos, violentadores e assassinos do adolescente Lucas Terra continuam impunes, com a benção da Igreja Universal do Reino de Deus. 21 anos se passaram e “o caso ainda está em aberto”.

No caso do Lucas, a justiça é tão culpada, por omissão, quanto os pastores. No caso do Geovane, culpadas são as Forças Armadas ao recusar o julgamento de seus militares pela justiça cível. E passam a mão na cabeça dos bandidos apesar da evidente ameaça de contagiar o resto do corpo militar.

Na manhã do primeiro domingo de setembro participei de um debate sobre racismo na padaria do bairro de Santo Antônio. Pois é, meu bairro tem destas coisas. Debate dirigido com sensibilidade e firmeza pelo vereador Silvio Humberto. Ao mencionar o assassinato do afro-americano George Floyd, me lembrei da gigantesca manifestação de repúdio da população, não somente negra, que esta morte suscitou no país inteiro. E aqui? No caso da Contorno, como em tantos outros casos, meia dúzia de manifestantes. A injustiça faz parte de nossa cultura. Então, porque reagir?

Sim, combater esta violência institucional é possível. São Paulo é hoje o mais evidente exemplo. Desde que foi decretada a obrigatoriedade da câmera individual para os policiais em serviço, as mortes baixaram de 80%. Isso mesmo: Oitenta por cento!

Mas na Bahia, o governador Rui Costa vai empurrando com a barriga desde o princípio do ano. É evidente que não tem a mínima intenção de encomendar câmera nenhuma. Bolsonaro agradece. Quanto ao eventual futuro governador ACM Neto, este declarou sem meias palavras também ser contra. Concluiremos que a esquerda e a direita preferem perpetuar o esporte da matança de jovens negros.

A pergunta que não quer calar: qual é a arma secreta da Polícia Militar que tanto amedronta os governantes?

Dimitri Ganzelevitch

A Tarde. Sábado 17 setembro 2022

 

 

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