quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

TOURISM OR NOT TOURISM


Digitei “Turismo Bahia fotos” no computador. Contei 115 fotos de praias, 40 do centro histórico, 17 do Elevador Lacerda e 8 do Farol da Barra. Igrejas? 3 ou 4. Nenhum museu. Se você passear no metrô de Londres, Nova-Iorque ou Paris, duvido muito que encontre algum cartaz sobre o rico patrimônio dos museus baianos ou dos muitos tesouros do Recôncavo.

Desde que aqui cheguei em 1975, só me lembro de ter visto um cartaz de museu. Acho que era do Costa Pinto. Até quando vamos nos contentar em só focalizar as praias e o carnaval absurdamente mercantilizado de Salvador? As outras festas populares pela Bahia afora não contam? O Balé Folclórico da Bahia e a programação do TCA não interessam aos turistas?

Os sucessivos secretários estaduais de turismo ainda não entenderam que praias tem milhões à volta do planeta tão e até mais belas que as nossas e que o patrimônio cultural e humano é sem dúvida nosso bem maior.

No princípio dos anos 90, o governo ACM confiou à Conder – em vez do Ipac, primeiro erro – a restauração do Pelourinho. Deu no que deu, mas pelo menos parte do centro histórico foi salva.

E depois do ACM, qual foi o empenho dos Paulo, Cesar, Jaques e Rui em dinamizar o centro histórico de Salvador e a recuperação do Recôncavo? Nenhum. Zero. A não ser modestas e medíocres obras pontuais, como a desastrosa “requalificação” da Rua Direita de Santo Antônio, até hoje inacabada.

Em números, sempre inchados que nem linguiça, pouco mais de um milhão de visitantes de julho 2021 a julho de 2022. É piada? E vamos parar de culpar a pandemia, taokei? Cachoeira em ruína. Santo Amaro, favelado. Monoculturas do bambu e do famigerado eucalipto “deserto verde”. Mais deserto verde na Chapada Diamantina. Maragogipe entregue a bandidagem, Porto Seguro colonizado pelos farofeiros mineiros e dominado pela poluição sonora. Boipeba – minha paixão – ameaçado por um aeroporto e um absurdo projeto imobiliário na Ponta dos Castelhanos, apesar de ser APA.

Enquanto isso, igrejas, conventos e patrimônio imobiliário totalmente abandonados. É assim que vocês, senhores governantes, pensam seduzir o turismo internacional?

No sábado 13 de fevereiro de 2021, o governo Rui Costa encerrava 160 anos de história da ferrovia na Bahia. Das consequências sociais para a faixa mais miserável do subúrbio já se falou, sem que até hoje fosse encontrada qualquer solução. Além das mazelas sociais, foi ignorada a tendência mundial de reabilitação das linhas ferroviárias. Imagine o leitor os muitos benefícios da recuperação do itinerário Salvador -São Felix. Estaria solucionado em boa parte o desenvolvimento do turismo no Recôncavo.

Mas os governantes se contentam em soltar foguetes para meia dúzia de navios de cruzeiro. Por favor...

Dimitri Ganzelevitch

A Tarde, sábado 3 de dezembro 2022

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