sábado, 10 de dezembro de 2022

OS AZULEJOS DE SALVADOR

 Salvador (BA): maior acervo da azulejaria lusitana fora de Portugal

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A Bahia abriga o maior número e mais importantes polos da azulejaria portuguesa fora de Portugal, segundo dados do Iphan e do historiador baiano Estácio Fernandes. No complexo da igreja da Ordem Terceira de São Francisco está instalada a única azulejaria portuguesa que representa paisagens da cidade de Lisboa, antes do terremoto de 1755. Na cidade baiana de Cachoeira, mais precisamente na igreja matriz de Nossa Senhora do Rosário, os portugueses deixaram o legado histórico em azulejos que se constitui no maior painel do gênero fora de Lisboa. Que tal saber mais? O Tô no Mundo revisita essas joias mundialmente significativas para a história e as artes.

Igreja da Ordem de São Francisco, fachada chama atenção pela beleza estética e iconográficas únicas

Ao passear pelo Pelourinho, no Centro Histórico da Primeira Capital do Brasil (1549 – 1763), o visitante se depara com uma construção de fachada pequena se compara a outros templos católicos brasileiros, mas de um rebuscamento artístico que impressiona: a igreja da Ordem Terceira de São Francisco.

Apesar da igreja ter sido inaugurada em 1703, o frontispício só foi entregue à população em 1705. Pelo seu ineditismo no cenário arquitetônico brasileiro e pela sua riqueza plástica e iconográfica, a fachada em pedra de arenito lavada e decorada em alto-relevo já foi objeto de estudo de historiadores e é centro de romaria de apreciadores do belo.

Azulejaria por todos os lados no antigo Convento da Ordem Terceira

A obra da arquitetura colonial portuguesa que mescla detalhes do barroco espanhol, foi construída pelos franciscanos no Terreiro de Jesus, em Salvador, para impressionar e compor um dos mais importantes conjuntos arquitetônicos do país, juntamente com a igreja e convento de São Francisco. O conjunto foi tombado pelo Iphan, classificado como uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo, e faz parte do Centro Histórico da capital baiana, que hoje é Patrimônio da Humanidade.

Ao adentrar no hoje Museu da Ordem, a azulejaria portuguesa chama atenção por ocupar galerias, claustro, corredores, escadarias e salas. Trazidos de Lisboa em 1753, os mais de 19 painéis de azulejos retratam o cortejo do casamento de Dom José I, futuro rei, com Mariana Vitória de Bourbon e Farnésio, em 1729, além de destacar também a Lisboa antes de ser devastada pelo terremoto de 1755, dentre as paisagens os 11 arcos que adornavam as ruas de Lisboa e hoje não tem mais.

Por conta desse ineditismo, os painéis de Lisboa pré-terremoto não somente correspondem a história da arte, mas também retratam e documentam um período lusitana do século 18, importante e único para os dois países. Mas não é somente o tema da obra que impressiona na azulejaria portuguesa na Bahia. A qualidade e a diversidade de lugares e quantidade da arte lusitana.

Azulejos contam a história de Lisboa antes do terremoto: história

Além da Ordem Terceira, uma série de edificações sacras na cidade possue azulejarias portuguesas, a exemplo da Igreja do Bonfim, Igreja de Nossa Senhora da Saúde e da Glória, nos conventos do Carmo e do Desterro, porém destacam-se também nas construções do Recôncavo Baiano, como na matriz de Santo Amaro da Purificação e em Cachoeira, a 110km de Salvador. Na cidade do Recôncavo a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário possui um painel considerado o maior fora de Portugal, com cerca de 13 mil peças e cinco metros de altura.

Igreja da Matriz de Nossa Senhora do Rosário, em Cachoeira: maiores painéis fora de Portugal

Tombada pelo Iphan desde 1939, a Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário começou a ser construída no final do século XVI. Os trabalhos continuaram por longos anos já que a obra foi custeada pela população local e contou com o auxílio da Coroa Real.

Painéis azulejísticos contam os hábitos dos católicos em Cachoeira

Restaurados e entregues à população em 2012, os brasileiros e turistas têm ao alcance dos olhos um dos mais belos e representativos painéis do Brasil, que retrata os costumes católicos que deveriam ser seguidos à época. Como em outros templos, a azulejaria mostra os hábitos que os fiéis deveriam seguir para ter uma vida plena na terra e ganhar os céus. Os painéis foram restaurados por meio de uma minuciosa técnica inédita no país e montados como há mais de 300 anos.

Em Cachoeira, painéis chegam a ter três metros de altura

Além da Bahia, destacam também Pernambuco e Rio de Janeiro, por grau de qualidade e quantidade da azulejaria portuguesa. Na Paraíba há um acervo também de grande importância. Quando se fala em azulejaria de fachada, destacam-se São Luís (Maranhão) e Belém do Pará.

Preservar essas joias são sem sombra de dúvida um dever de perpetuar o belo, a arte e um direito de garantir que a história continue presenteando os brasileiros e os turistas.

Dicas de viagem

Não somente azulejos, mas uma bela vista, arte sacra e objetos de arte da época no Museu da Ordem, em Salvador

O prédio da Ordem Terceira de São Francisco abriga ainda outras preciosidades, como uma pia usada pelos padres que foi trazida de Macau, então colônia portuguesa, em 1720. A igreja também possui um órgão de tubos de 1830 que está quebrado desde 1936. De acordo com um especialista, 350 peças precisam ser trocadas para que o órgão volte a funcionar.

A visitação custa R$ 5 para manutenção do Museu da Ordem que fica na rua da Ordem Terceira, S/N – Pelourinho, Salvador – BA, 40020-270. Visitação: Segunda a domingo, das 8h às 12h e das 13h às 17h.

A igreja da matriz de Cachoeira R. Lions Club, 1, no centro histórico da cidade. Telefone: (75) 3425-3179. Integra também a sacristia quadros e os restos mortais de Ama Neri. A igreja sempre permanece aberta durante o dia, de segunda a domingo e não paga para entrar.


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