quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

OS FARTOS BANQUETES...

... DA FESTA DA CONCEIÇÃO DA PRAIA

Pode ser uma imagem de 1 pessoa, criança e em pé
São interessantes os relatos da festa da Conceição do lado de fora do templo, Mas, há uma coisa que não se enquadra nesses relatos saudosistas dos historiadores e cronistas. O entorno da Igreja da Conceição, pelos relatos dos viajantes e as fotos de final do século XIX, era uma imundície só, por isso amamos aquelas fotos clássicas de dezenas de saveiros com as velas entrecruzadas porque disfarçam a sujeira e, como foto ainda não cheira, tanto melhor. Imagino a trabalheira da Intendência, naqueles idos, para tornar as imediações da igreja, transitáveis para o tradicional 8 de dezembro.
Era uma festa e tanto de comida, bebida, divertimentos e devoção. E de baianos metidos a besta e essa a parte que eu mais gosto, por que não ser refinado? Ricos, remediados e pobres sabiam fazer. Durante a procissão, contam os cronistas mais antigos, na subida das estreitas ladeiras, se fazia uma pausa para degustar um bom vinho do Porto e renovar energias para continuar.
E as irmandades caprichavam nos fartos banquetes de véspera, nas serenatas com cantores de modinha e nos saraus de piano que invadiam a meia-noite da data de Nossa Senhora. Na rua, o povo se virava em barracas simples, mas nem tanto, adornadas com folhas de palmeiras, cortinas de linho e alvíssimas toalhas de mesa e, no cardápio, as melhores pingas do Recôncavo e os mais requintados pratos da culinária baiana.
Não se comia pastel, cachorro-quente, churrasquinhos imundos e acarajés recozidos no azeite de ontem, naquele tempo. As barracas ofereciam xinxim de galinha, moqueca de arraia, bobó de camarão e efó, enquanto a capoeira corria solta e o samba de roda se multiplicava a cada esquina, e a garotada e os marmanjos divertiam-se nas corridas de saco e no pau de sebo.
A disputa era para saber qual a barraca mais limpa e de melhor comida. E quem servia vestia os melhores torsos, finíssimo pano da costa e enfeites dourados e prateados nos braços e nas sacadas das residências exibiam-se belas mantas e as tradicionais lanternas coloridas confeccionadas artesanalmente. O espírito da festa era cair de porre, mesmo, mas com elegância, orgulho das raízes e educação.
Foto de Voltaire Fraga.
Vendedor de frutas na Festa da Conceição.

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