Foi em 1951 durante
uma caçada que nasceu o livro que iria levar até o absurdo o espírito de
competição do ser humano. O Guiness Book of Records despertou o planetário
complexo de vira-lata que leva as redes sociais a declarar tal praia a mais
bela do mundo, Fulano o homem mais rico, tal bicho o mais veloz ou mais feroz.
O último desastre marítimo é o Pior de Todos os Tempos, aquele asiático com
físico de galã é o Maior Tenor de Todos os Tempos e o último filme, o Melhor de
Todos os Tempos. As listas da Forbes reforçaram a competição.
Passadas 24
horas, os conhecimentos recém adquiridos serão varridos por outros. Outro
restaurante, outra dançarina, outra onda.
Ultimamente,
emergiu do fundo da Croácia – menos de 4 mi de habitantes – a Taste Atlas. Determinou
que a culinária mineira era a Melhor do Brasil e o cuscuz paulista o Pior Rango
do Mundo. O Michelin que se cuide.
Adivinho um
exército de croatas e croatos (?) de paladar apurado vasculhando Honduras,
Paquistão, Noruega e o arquipélago de Tuamotu a catar o Melhor de Todos os
Tempos e o Pior também. Deve sobrar pouca gente neste pequeno país. Lembrando
meus anos de crítico gastronômico, confesso estar perdido ao tentar adivinhar o
poderoso chefão que banca tão humanitária pesquisa. Para qual retorno?
Vivemos a
Era dos Superlativos e das Maiúsculas. Meu Público Maravilhoso, amo vocês!
clamam em uníssono Claudia Leitte e Wesley Safadão. Este Patê de Mortadela é
Divino! gritou a jornalista. Acabei de ler o Livro do Século (que ainda está no
primeiro quarto) decreta o crítico literário.
Esta corrida
desenfreada pelo Insuperável é filha legítima da publicidade cujas origens
remontam a antiguidade. Declarou-se abertamente a partir da revolução
industrial inglesa no século XIX até ser hoje uma imposição ditatorial.
Ao ler esta
afirmação, o leitor talvez esboce um sorriso de dúvida. Mas a indústria
destrutiva da cultura do carnaval não é um flagrante exemplo da ditadura
publicitária, começando em Salvador pela exclusividade de uma única marca de
bebidas?
Nos anos 70
as fantasias eram inúmeras. A partir dos anos 90, a mortalha seria o uniforme
dos blocos. Com o novo milénio, a mortalha iria encolher até meio corpo: o
abadá. Hoje o abadá serve para anunciar produtos. Amanhã, não duvidem, será
substituído por um simples crachá com holograma de cerveja ou perfil do
prefeito do momento.
Em paralelo,
as suntuosas decorações que pontuavam avenidas e praças, criações de artistas
consagrados, despareceram, espaços agora recuperados por milhares de outdoors.
Yes, temos o
Maior Carnaval do Mundo com 3 milhões de participantes. O Galo da Madrugada é o
Maior Bloco com 2,5 milhões. No Rio de Janeiro bailam 5 milhões...
Quem tem o
nariz mais comprido?
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