Roque Araújo, o homem de mais de 1.500 equipamentos de cinema
O incansável Roque Araújo, aos 74 anos de idade, expõe parte do acervo de mais de 1.500 equipamentos reunidos ao longo de 53 anos dedicados ao cinema, prepara-se para lançar documentário de 60 minutos sobre o cineasta baiano Glauber Rocha e já criou a base para a fundação do Instituto de Cinema e Audiovisual Roque Araújo com uma página no Facebook.
Encerrada a exposição Bahia: 100 Anos de Cinema, no último mês de maio, Roque engata outra: a partir de hoje (3/6), até o dia 30 de junho, estará aberta, na Galeria Pierre Verger (Biblioteca Pública do Estado, Barris), a mostra Introdução ao Cinema na Televisão, reunindo mais preciosidades.
Entre elas, a primeira câmera Super 8 de Edgard Navarro, a câmera 35mm com a qual José Umberto dirigiu O Anjo Negro , nos anos 1970, e Agnaldo “Siri” Azevedo fez inúmeros filmes, dentre os quais Capeta Carybé, nos 90, a primeira câmera Super V Profissional com a qual Walter Lima fez o documentário sobre Sante Scaldaferri e começou a filmar Um Vento Sagrado (2001) e a primeira câmera de Alexandre Robatto.
“Eu tento contribuir com qualquer coisa que se refira ao cinema”, afirma ele ao definir sua paixão. Coordenador do Núcleo de Apoio à Produção da Diretoria de Audiovisual (Dimas) da Fundação Cultural do Estado (Funceb), Roque não se cansa de listar equipamentos que compõem o acervo. “Uma câmera do começo do cinema francês, a famosa caixa de fósforos da época do Pathé”, diz. E com orgulho aponta: “Aquela (Kodascope) foi a primeira peça que comprei no Rio. É de 1910. Só foram fabricadas 10 unidades”.
“QUASE TODAS FUNCIONAM” – Uma câmera usada em avião de combate brasileiro na Segunda Guerra Mundial, um projetor de estúdio para fazer dublagem, uma moviola Kem, importada da Alemanha em 1974, outra em que o cineasta Nelson Pereira dos Santos montou o filme Como Era Gostoso o Meu Francês. Roque Araújo vai desfiando o catálogo de preciosidades cinematográficas. “Quase todas funcionam – 99,9%”, assinala, ao detalhar: 1.185 unidades estão em Salvador, outras 497 estão no Rio de Janeiro aguardando um espaço para abrigá-las na Bahia.
Enquanto não consegue o espaço físico, Roque já está com o embrião do Instituto de Cinema e Audiovisual plantado no Facebook: o Instituto Roque Araújo – Museu Virtual, que realizará eventos como exposições e workshops e onde poderão ser encontradas informações sobre a história do cinema baiano.
Ele conta, aliás, que já está em negociação com o Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, órgão do Ministério da Cultura, de onde espera retorno sobre ofício que encaminhou solicitando o prédio onde funcionou o Arquivo Público, em Cachoeira, para a instalação do instituto.
COMEÇO – Diretor de No Tempo de Glauber, Roque começou a trabalhar com cinema meio por acaso. O cineasta Roberto Pires queria fazer algumas tomadas nos barracões do Teatro Castro Alves ainda em construção, nos anos 50, para o filme Redenção, que se tornaria um marco – o primeiro longa-metragem baiano. Roque era eletricista da obra e foi destacado para acompanhar a equipe de produção.
De eletricista passou a assistente de câmera e prosseguiu como assistente de direção e diretor de fotografia. Trabalhou em todos os filmes de Glauber Rocha, menos no curta O Pátio. Com as sobras de A Idade da Terra(1980), que Glauber deixou para ele, fez No Tempo de Glauber (1986), uma espécie de making of e painel grandiloquente sobre o último filme do diretor de Deus e o Diabo na Terra do Sol.
Agora, volta ao universo de um dos maiores nomes do cinema latino-americano, com o documentário Glauber em Defesa do Cinema, para revelá-lo no set de filmes como Jorge Amado no Cinema e Di Cavalcante e no antigo programa de televisão Abertura.
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