terça-feira, 25 de julho de 2017

A MINHA OUTRA PÁTRIA

 O DRAMA DOS PORTUGUESES DA VENEZUELA 





Quase cinco mil emigrantes regressaram à Madeira nos últimos meses por causa da crise económica, social e política na Venezuela. Os pedidos de ajuda ao Governo Regional dispararam. Muitos luso-venezuelanos voltaram às origens com pouco mais do que a roupa do corpo. "A Minha Outra Pátria", Reportagem Especial de hoje.


Aron é um bebé. E merecia melhor sorte.
Teve o azar de nascer no caos em que está mergulhada a Venezuela. Um país, outrora, tão rico e próspero, em crescente guerra consigo próprio. Na terra de Maduro, o preço de uma simples pasta de dentes ou de um de quilo de arroz, pode custar um terço do ordenado. Leu bem, um terço! Há pessoas a sobreviver com 10 euros de salário.
Apesar de ter nascido com problemas de saúde que o obrigavam a permanente vigilância, Aron enfrentava as filas dos supermercados ao colo da Mãe, Yamile. Pelo menos, cinco, seis horas de espera, sabe-se lá onde. A desafiar a vida. O risco de andar nas ruas em Caracas onde não há ordem nem lei e qualquer um tem uma arma escondida.
Tinha mesmo de ser? Tinha. Alguém precisava de comprar leite, pão e outros bens de primeira necessidade. Mário, o pai, trabalhava durante o dia e só os rendia no final do expediente. A família chegou a estar cinco dias na fila para abastecer a dispensa lá de casa. Uma constante luta pela sobrevivencia.
Aron precisava de medicamentos. E não tinha. Estava subnutrido. Os rins funcionavam mal. Não tinha a mobilidade expectável para um bébé de quase 1 ano. Alguma coisa tinha de ser feita. Mário e Yamilé foram obrigados a tomar uma decisão radical: fugir. Arranjaram à pressa a mala e despediram-se da família. Não tiveram tempo para dizer adeus a todos os amigos.
Venderam o carro para comprar as passagens de avião para a Madeira, terra onde nasceram os pais de Yamile. Não sabiam como seria o dia seguinte. Nem as próximas horas. Só queriam sair do inferno de Caracas.
Na bagagem, pouco mais do que roupa. Uns trocos no bolso serviram para os primeiros dias.
Acabaram, entretanto. Há 3 meses que estão em Portugal. Procuram trabalho mas não conseguem. A taxa de desemprego na ilha é das mais elevadas do país. E, Mário, o pai de Aron, é venezuelano e não teve tempo, sequer, de tratar da documentação no país de origem. O caso é complexo mas igual a tantos outros. Sem documentos, não tem acesso à Segurança Social e sem Segurança Social não arranja emprego. Um ciclo vicioso.
A história de vida de Mário, Yamile e Aron é igual à de tantos outros luso venezuelanos que, nos últimos meses desembarcaram nesta ilha. Agora, a ilha da esperança, onde quase 5 mil pessoas esperam regressar a uma vida normal. Muitos sobrevivem, apenas, com a ajuda da Cáritas, Cruz Vermelha e Junta de Freguesia.
Os pedidos de apoios sociais dispararam e o Governo Regional não tem orçamento para tudo.
Emigrantes que regressam às origens. A casa dos pais, dos avós. À Pátria que também é deles, apesar do desconforto que geram entre alguns dos que vivem na Madeira:
"Revolta-me que venham para a Madeira e sejam ajudados pelo Governo Regional que nunca se preocupou com os que cá ficaram e passam muito mal", diz uma comerciante de flores no Funchal.
Uma equipa de reportagem da SIC acompanhou o regresso à Região Autónoma da Madeira de vários emigrantes na Venezuela e a luta que travam pela reconstrução de uma nova vida longe da violência e, em muitos casos, da família e de tudo o que conquistaram em décadas de trabalho.

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