COBRAS CRIADAS
JORNAL “A TARDE”
28/07/2017
Eliane Cantanhêde – jornalista
A então presidente Dilma
Rousseff descumpriu uma regra básica do poder ao transferir o presidente do
Banco do Brasil, Aldemir Bendine, para a Petrobrás num momento muito delicado
para o país e para a estatal. Essa regra é que “a mulher de César não basta ser
honesta, é preciso parecer honesta”. Bendine era considerado competente na
gestão do BB, mas pairavam sobre ele várias polêmicas de ordem ética.
Como
presidente do BB, ele foi pego pela Receita Federal por “evolução atípica” de
patrimônio, por valores não justificados e pela compra de um imóvel com
dinheiro vivo. Sem ter o que responder, alegou que guardava R$ 280 mil em casa.
Soou excêntrico o presidente do maior banco público guardar pilhas de notas de
reais debaixo do colchão e comprar apartamento em “cash”.
Será
que Bendine, funcionário de carreira de uma das instituições mais sólidas do
Brasil, não acredita no sistema financeiro? Vê com desconfiança o próprio Banco
do Brasil? Ou, como a Receita suspeitava, ele não tinha como justificar a
origem do dinheiro e não podia depositá-lo? A Lava Jato está respondendo a
essas dúvidas agora.
Val Marqiuiori que tanto precisa do empréstimo do Banco do Brasil
Além
disso, Bendine tinha passado pelo vexame de liberar um empréstimo camarada, de R$
2,7 milhões, para a socialite paulista Val Marchiori, que tinha um probleminha:
estava inadimplente com o banco e não poderia receber empréstimos. Mas ela
guardava um trunfo: era amigona de Bendine, com quem até viajou para o
exterior.
Numa
outra frente, Bendine foi processado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
por suspeita de “violação de silêncio” sobre uma oferta pública inicial de
ações da BB Seguridade. No início deste ano, ele pagou multa e ficou por isso
mesmo, mas as multas e os jeitinhos não resolvem uma questão básica: um cidadão
com tantas situações “atípicas” poderia assumir a presidência da Petrobrás?
E
ele não assumiu num momento qualquer, de normalidade no país e na própria
petroleira. Assumiu justamente com o país de pernas para o ar e a Petrobrás
estraçalhada desde o governo Lula e com operações estranhíssimas também na era
Dilma (como Pasadena), e já alvo da Lava Jato, que completava então um ano.
Assim
como a grande amizade com Bendine justificou a quebra de regras e um empréstimo
milionário para Val Marchiori, a proximidade de Bendine com Lula e com o PT o
catapultou à presidência do maior banco público, a ótimas relações com
ministros e assessores-chave de Lula e Dilma e depois à maior e mais simbólica
companhia brasileira.
Foi
por essas e outras que, apesar de o próprio BB ainda passar razoavelmente ileso
pelas investigações, nada mais escapou da sanha da corrupção ou da má-fé:
Petrobrás, Caixa Econômica Federal, Correios, Furnas, administração direta,
crédito consignado dos aposentados, sistema bancário, agências reguladoras...
Nenhum comentário:
Postar um comentário