sábado, 29 de julho de 2017

ODEBRECHT: TRÊS VEZES MAIS

Ex-Odebrecht diz que propina paga é muito maior do que a delatada

Em entrevista ao 'El País', Rodrigo Tacla Durán, que trabalhou cinco anos na empresa, diz que só um banco movimentou o triplo do que foi declarado

Rodrigo Tacla Durán
Advogado da Odebrecht entre 2011 e 2016, Rodrigo Tacla Durán se negou a participar do acordo de delação premiada firmado por 78 executivos e ex-executivos da empreiteira no final do ano passado, no âmbito da Operação Lava Jato. Vivendo hoje na Espanha, Durán, em entrevista ao El País, disse que tomou a decisão “por uma questão de princípios” e questionou a própria colaboração da empresa.
Ele contesta a versão de que a Odebrecht tenha confessado todos os seus crimes, no Brasil e no exterior, no acordo firmado com o Ministério Público Federal (MPF). Segundo Tacla Durán ao El País, a empreiteira omitiu parte da atuação do Meinl Bank, instituição financeira em Antígua e Barbuda comprada pela empresa. Às autoridades brasileiras, o grupo declarou ter pago 2,5 bilhões de reais em propina a agentes públicos – o advogado, no entanto, ouviu de um ex-diretor a cifra de 8 bilhões, mais de três vezes mais.
No Brasil, os executivos da Odebrecht assumiram ter pago 1,1 bilhão de reais. De acordo com a fala de Durán, é pouco. “O montante foi muito maior. A empresa gastava 481 milhões de reais por ano em propina. Até o porteiro recebia. Os subornos respingaram em todos os partidos. De direita, de esquerda… Do governo, da oposição… E não há somente políticos entre os beneficiários… A empresa apostava. Por exemplo, na disputa entre Lula e Dilma, a Odebrecht preferiu Lula”, afirmou na entrevista. Ele estima que, no país, sejam cerca de 500 pessoas envolvidas.
Segundo o advogado, o esquema funcionava da seguinte forma: a Odebrecht mantinha o Meinl Bank em Antígua e depois utilizava uma outra instituição, a Banca Privada de Andorra (BPA), para pagar as propinas em transações fora de registro. Ele elenca o país caribenho como uma das nações americanas em que a empresa teria dado dinheiro ilegalmente, mas cujas ações ilícitas foram omitidas na colaboração. Ele afirma que o primeiro-ministro de Antígua, Gaston Browne, recebeu 11 milhões de reais para omitir das autoridades brasileiras as movimentações da instituição.
Já no suborno para campanhas eleitorais, explica que a contrapartida principal era o estabelecimento de obras preferenciais e até a articulação para ajudar os países a captar os recursos necessários para executá-las. “O primeiro contato era estabelecido na campanha eleitoral. A Odebrecht arcava com os gastos do marketing político dos candidatos. Tinha um acordo com o publicitário João Santana. A construtora sugeria depois as obras que seriam incluídas nos planos do Governo”. Santana fez, no Brasil, as campanhas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT.

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