Meninas sofrem abusos em “campos de educação sexual” no Malawi
Eric Aniva é uma "hiena" em sua aldeia no Malawi, o que significa que ele é pago para “educar” sexualmente as meninas pré-adolescentes.© Getty Images
No Malawi, meninas de 10 anos são enviadas para acampamentos de educação sexual no sul do país, onde são estupradas e abusadas sexualmente. A denúncia foi feita em uma reportagem publicada pelo jornal francês Le Monde nesta segunda-feira (24).
No acampamento de "educação sexual", meninas são ensinadas a se comportar para "satisfazer" os homens no Malawi, na África. As crianças são enviadas pela própria família, segundo o depoimento de uma das garotas, Awa Kandaya, 20 anos, entrevistada pelo jornalista francês Amaury Hauchard?
A jovem frequentou o local quando tinha apenas nove anos. Tradição no país, o assunto é discutido abertamente pelos seus pais, mas eles não falam sobre o estupro que ela sofreu de um homem pago pela própria famíilia para ensiná-la as "coisas da vida".
Em uma das atividades, as crianças são levadas para um rio, onde se despem completamente para se tocar umas às outras, além de outros abusos. “Somos levadas para um lugar distante do vilarejo, num prédio longe dos homens, onde ficamos sozinhas com as organizadoras do acampamento”, contou a jovem. “Quando os rituais começam, entendemos o motivo de estarmos lá, que é aprender a agradar sexualmente aos homens”.
Lavagem cerebral
A prática começa a ser proibida em certos países da África, mas permanece uma tradição no Malawi. Segundo as lendas locais contadas às vítimas, doenças e tragédias podem atingir as famílias que se recusam a participar do acampamento. Apesar da luta das ONG instaladas na região, a grande maioria das meninas aceita ir para o acampamento, sem ter ideia do que as aguarda.
Além de “como agradar a um homem, as garotas são ensinadas a esconder todo vestígio da menstruação, para não 'enojá-los'. É uma lavagem cerebral, as crianças se tornam mulheres precocemente”, afirma Joyce Mkandawire, da ONG Let’s Girl Lead.
Estupro financiado
Um outro perigo que ronda a inocência das meninas de Malawi são os chamados "hienas": homens pagos pelos próprios pais para “educar” sexualmente as crianças. Awa Kandaya afirma que um deles vivia na comunidade, mas Esitele Paulo, a organizadora do acampamento, nega toda ligação com os hienas. "Não temos isso aqui", diz. As autoridades insistem que a prática desapareceu no país. No Malawi, uma de cada duas meninas se casa antes dos 18 anos.
(Com a colaboração de Marcos Lucius Fernandes Nunes)
Nenhum comentário:
Postar um comentário