domingo, 30 de julho de 2017

A CASA MALAPARTE

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A Casa Malaparte, construída em 1938 pelo arquiteto racionalista Adalberto Libera, em Punta Massullo na Ilha de Capri, Itália, é considerada como um dos melhores exemplos da arquitetura moderna italiana. A casa, um paralelepípedo vermelho com escadas piramidais inversas, implanta-se a 32 metros sobre um penhasco no Golfo de Salerno. Encontra-se completamente isolada da civilização, somente acessível a pé ou de barco.
A casa foi encomendada por Cruzio Malaparte, célebre escritor italiano, cujo caráter excêntrico o levou a apropriar-se completamente do processo criativo de projeto, causando sérios conflitos com Libera. Para Malaparte, a casa deveria refletir seu caráter, um lugar para a escrita solitária e a contemplação; ele descrevia como, "agora vivo em uma ilha, em uma casa austera e melancólica, que foi construída em um penhasco solitário sobre o mar. A imagem do meu anseio".
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A Casa Malaparte possui uma qualidade plástica de objeto, é a geometria a que regula a ordem do projeto, não seu contexto. Isso cria uma linguagem alheia ao seu entorno, afastando-se dele, impondo suas próprias regras e dotando-a de um caráter monumental. Ainda assim, cria uma relação harmônica com a natureza, não interrompe seu entorno, mas mescla-se com ele. Isso se vê reforçado na escolha dos materiais, rejeitando o uso do concreto - tão característico de outras construções modernas da época - a Casa Malaparte foi construída com pedra local extraída do próprio terreno. Como resultado, é como se a casa tivesse surgido a partir da mesma paisagem em que se situa, as escadas parecem exceder da falésia, criando uma nova altura sobre ela.
A Villa Malaparte foi o cenário do filme "Le mépris" de Jean-Luc Godard
O interior da casa se desenvolve de uma forma muito hermética, separando-se do exterior, a casa se expande em seu interior de forma completamente independente. Distribui-se em três níveis que variam em largura. No pavimento inferior encontra-se a área de serviços, adegas e lavanderia; no primeiro piso está o acesso da casa pela fachada sudoeste, a cozinha e os dormitórios de hóspedes. O último pavimento apresenta-se como o apartamento de Malaparte, um mundo único em si mesmo. A metade deste está ocupado por um amplo espaço de estar, marcado por quatro janelas que trazem a presença da paisagem exterior. A outra metade contém as duas habitações principais que conectam a um estúdio situado na frente da casa.
O programa habitacional é desenvolvido em uma distribuição retilínea, privilegiando as vistas transversais dos espaços interiores, gerando uma sequência horizontal das habitações. Tanto assim que no piso superior os corredores são eliminados, obrigando a passagem de um recinto ao outro.
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Sobre a casa encontra-se uma ampla escada que conduz ao solarium, um novo piso que parece extender-se ao horizonte. Este espaço mantém-se completamente alheio ao restante da casa e não é acessível desde os espaços internos. Apresenta-se como escadas em linha reta, sem corrimões ou paredes que contaminem a pureza geométrica da obra ou protejam contra a vertigem. É nessa promenade architecturale que se manifesta, em seu máximo esplendor, a monumentalidade da Casa Malaparte. A escada apresenta-se como um "ritual" de chegada ao solarium, onde finalmente a paisagem desdobra-se em sua totalidade ante o visitante.
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Depois da morte de Crucio Malaparte em 1957, a casa, como outras grandes obras modernas - como a Villa Savoye de Le Corbusier, o E-1027 de Eileen Gray - acabou completamente abandonada, passando grande parte do século XX em um estado de total deterioração. Em 1961, Jean-Luc Godard gravou seu aclamado filme O Desprezo (Le Mepris) na Casa Malaparte. A arquitetura adquire um papel protagonista e passa a estar muito ligada ao roteiro do filme.

Foi entre o final dos anos 80 e o início dos 90 que se iniciaram trabalhos de reconstrução e restauro da Casa Malaparte. Estes foram liderados por Niccolò Rositani, sobrinho-neto de Crucio, voltando a proporcionar visitação pública para a casa. Em 1980, John Hejduk descreveu-a na revista Domus 605: "A Casa Malaparte de Libera é privada. É uma casa de paradoxos. É um objeto que consome. Está cheia de histórias sem contrapartidas. É uma relíquia deixada em um pináculo após os mares colapsarem. É um sarcófago de gritos suaves. Sussurro dos destinos inevitáveis ".

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