domingo, 24 de março de 2024

TUTTI BUONA GENTE

 Em delação, Lessa afirmou que Regina Celi, ex-presidente do Salgueiro, seria assassinada pelo bando

Lessa afirmou que o bicheiro Bernardo Bello, hoje foragido, foi o mandante do crime. Segundo o PM aposentado, ele vigiou Celi e a então vereadora Marielle Franco nos dias 1º, 2, 7 e 17 de fevereiro de 2018. Marielle foi morta no mês seguinte, em 14 de março.


Por Rafael NascimentoHenrique Coelho, g1 Rio





Em delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal, Ronnie Lessa afirmou que monitorou e recebeu instruções para matar a ex-presidente do Salgueiro, Regina Celi Fernandes Duran. A ordem, segundo Lessa, teria partido do contraventor Bernardo Bello, através de Edimilson Macalé, morto em 2021.

A informação consta no relatório da PF, que teve seu sigilo levantado neste domingo (24) pelo STF.

Em depoimento, Lessa disse que chegou a monitorar a ex-mulher de Luiz Augusto Duran, o Fu, que morreu no final de 2017, para matá-la. O objetivo era assassiná-la no dia 14 de fevereiro de 2018, no dia da apuração do resultado do desfile das escolas do grupo especial do carnaval carioca.

De acordo com a delação, Lessa vigiou Celli, e a então vereadora Marielle Franco, nos dias 1º, 2, 7 e 17 de fevereiro de 2018. O relatório aponta que o sicário afirmou que chegou a monitorar Regina Celi com o Chevrolet Cobalt prata.

No entanto, por problemas de logística, Celi e Marielle acabaram escapando da emboscada.

A vereadora do PSOL seria morta em 14 de março daquele ano.

De acordo com o documento da PF, o plano foi tramado durante a campanha de reeleição de Regina, que postulava um terceiro mandato no Salgueiro.

Em delação, o assassino de aluguel afirmou que os criminosos fizeram sete pesquisas sobre a vida da então presidente. Ela vinha sendo monitorada desde 2017.

O relatório da Polícia Federal destaca que Ronnie utilizou como parâmetros o CPF de Regina, o de sua filha, o número de um telefone que seria de um filho da sambista, e o CNPJ da empresa de eventos da ex-presidente.

Bello, hoje foragido da Justiça, defendia o candidato de oposição, André Vaz.

A então dirigente da agremiação, segundo a PF, era alinhada com Shanna Garcia, filha do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, morto em 2004, e neta de Miro Garcia, patrono da escola.

O relatório da Polícia Federal indica ainda que Lessa, que já foi investigado por ter rede de bingos com o bicheiro Rogério Andrade, afirmou que também atuou a favor de seu rival à época, Bernardo Bello:

“Embora já tivesse vinculação com Rogério Andrade, Ronnie, exatamente no mesmo período em que lhe fora repassada pelos irmãos Brazão a demanda para executar Marielle, acatou a demanda proposta por Bernardo Bello, concorrente de Rogério e, hoje, seu inimigo capital, para executar a Presidente do Acadêmicos do Salgueiro, Regina Celi”, diz trecho do relatório.

g1 tenta contato com Regina Celi. A reportagem procurou o Salgueiro e André Vaz e aguarda retorno.

Bid também foi monitorado

O bicheiro Alcebíades Paaes Garcia, o Bid, morto na porta de um condomínio da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, em fevereiro de 2020, também foi monitorado por Lessa.

Acebíades Paes Garcia, o Bid, foi morto em fevereiro de 2020 — Foto: Reprodução/TV Globo

As consultas acontecerem nos dias 2 e 4 de fevereiro de 2018. De acordo com Lessa, Bello tinha interessa na morte de Bid.

Bernardo Bello acabou virando réu, junto de mais cinco pessoas, pela morte de Bid.

Bid era irmão do também contraventor Waldemir Paes Garcia, o Maninho, assassinado em 2004. De acordo com a investigação, o assassinato aconteceu em meio a uma guerra por pontos do jogo do bicho.


 SÓ PARA LEMBRAR


Queiroz era elo entre o clã Bolsonaro e a milícia que executou Marielle Flávio Bolsonaro e o ex-assessor Fabrício Queiroz 


Fabrício Queiroz, amigo de longa data do presidente da República, foi alvo de operação do Ministério Público do Rio de Janeiro, nesta quarta (18), junto ao seu antigo chefe, o ex-deputado estadual e, hoje, senador, Flávio Bolsonaro, além de ex-assessores ligados ao seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio. 

O MP visitou endereços em meio à investigação sobre a "rachadinha" de salários que teria acontecido entre os servidores reais e fantasmas e o parlamentar. Na relação de escrutinados, também há parentes de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair. A defesa de Queiroz afirmou que recebeu a notícia com "tranquilidade" e chamou a operação de "absolutamente desnecessária". Há um incômodo duplo sentido que esconde uma ironia à Justiça nisso. Afinal, ele teve mais de um ano para esconder provas de seu envolvimento.

O caso veio a público no longínquo 6 de dezembro de 2018, quando Flávio Serapião publicou em O Estado de S.Paulo sobre o documento do Coaf que apontava "movimentações atípicas" na conta do ex-policial militar, mas a apuração remonta o início do ano passado. Até agora, pasmem, Queiroz prestou apenas um depoimento por escrito ao MP-RJ, não tendo ido conversar pessoalmente com os promotores.

Mas o que era inicialmente uma investigação de corrupção envolvendo o "homem de rolo" de confiança do presidente, seu filho primogênito e a primeira-dama (que recebeu depósitos de Queiroz em sua conta, fato que seu marido alega ser devolução de empréstimo), ganhou outras cores devido à relação do ex-assessor com milicianos.

O mesmo "Escritório do Crime" apontado como executor da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes estava conectado ao gabinete de Flávio graças a ele. Esse é o elefante na sala que muita gente finge que não vê. A investigação arrastada contou com o apoio do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, depois do ministro Gilmar Mendes, que travaram o processo após a defesa de Flávio questionar o direito do Conselho de Controle de Atividades Financeiras em apontar indícios de "movimentações atípicas" sem autorização judicial prévia. O plenário do STF acabou por decidir que o órgão pode sim enviar informações, mas um tempo precioso se perdeu. 

 A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio afirmam que os executores de Marielle são o policial militar da reserva Ronnie Lessa (vizinho de Bolsonaro na Barra da Tijuca) e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, integrantes dessa milícia em Rio das Pedras. Ainda estamos à espera do(s) nome(s) do(s) mandante(s). No gabinete do filho 01 do presidente da República na Assembleia, por indicação de Queiroz, trabalhavam a mãe e a esposa de Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Bope, acusado de comandar o "Escritório do Crime". Ele está foragido da Justiça e também figura no rol de suspeitos.

O ex-assessor confirmou, em depoimento por escrito, no começo do ano, que recolhia mesmo parte dos salários dos funcionários do chefe na Alerj. O destino, segundo ele, era remunerar, de maneira informal, outros "assessores" de Flávio na base eleitoral. A isso, ele deu o pomposo nome de "desconcentração de remuneração". Disse que não acreditava ter cometido uma ilegalidade, pois o objetivo era "multiplicar e refinar os meios de escuta da população por um parlamentar".

Considerando a excelente votação que Flávio teve na região do "Escritório do Crime", como apontou levantamento da Agência Pública, a investigação precisa mostrar se o dinheiro da "rachadinha" também abastecia milicianos. Flávio já condecorou membros desses grupos criminosos formados por policiais e militares enquanto Jair os elogiava em seu mandato. Reportagens de Ana Luiza Albuquerque, Catia Seabra e Italo Nogueira, na Folha de S.Paulo, em outubro, trazem de áudios nos quais Queiroz reclama por ter sido abandonado, dizendo que o pior está por vir. "Eu não vejo ninguém mover nada para tentar me ajudar aí. É só porrada. O MP tá com uma pica do tamanho de um cometa para enterrar na na gente. Não vi ninguém agir", disse. Não se sabe exatamente qual a "pica do tamanho de um cometa", até porque ele não foi conversar com o MP. Caso seja a relação com o Escritório do Crime, isso tem potencial para tirar muita gente da zona de conforto. Mas nem precisaria tanto. Se o país fosse um pouco mais sério, o fato do presidente da República ter dito que um depósito de R$ 24 mil feito por Queiroz na conta da, hoje, primeira-dama, era a devolução de um empréstimo, sem apresentar nenhuma prova disso, já seria motivo o bastante para chocar a população e abrir uma investigação para saber quem paga as contas da família Bolsonaro e como. Contudo, os envolvidos sabem que operam com uma sociedade anestesiada e que evidências apenas trazem indignação quando envolvem o outro lado.



Nenhum comentário:

Postar um comentário