Na próxima terça-feira 27 de junho, será inaugurada na Aliança Francesa da Ladeira da Barra uma exposição quando estarei apresentando parte de minha coleção de obras de “Art Brut”, expressão assim definida em 1948 pelo pintor francês Jean Dubuffet. Como o leitor talvez não esteja familiarizado com esta forma de arte, aqui vão algumas elucidações.
Todo ser humano tem necessidade de comunicar-se com seus
semelhantes, mas nem todos conseguem. Traumas de infância, genética, depressão,
esquizofrenia ou transtorno bipolar... as razões são várias, as vítimas vivendo
uma vida de isolamento e obscuridão.
Em 1946, após
dezoito meses de encarceramento pela ditadura Getúlio Vargas por ideias
esquerdistas, a psiquiatra Nise da Silveira, discípula e correspondente
de Carl Jung, entrou no Centro
Psiquiátrico Nacional Pedro II do Rio de Janeiro onde retomou sua luta contra as técnicas psiquiátricas que
considerava agressivas aos pacientes.
Resolveria, longe dos eletrochoques, criar uma
terapia ocupacional, com ateliês de pintura e modelagem.
Jung a estimulou a apresentar uma mostra das
obras de seus pacientes, que recebeu o nome "A Arte e a
Esquizofrenia", ocupando cinco salas no "II Congresso Internacional
de Psiquiatria", realizado em 1957, em Zurique. Ao visitar com ela a exposição, ele orientou-a a
estudar mitologia como uma chave
para a compreensão dos trabalhos criados pelos internos”. *
Hoje, apesar de muito afastado do centro do Rio, vale a pena visitar o Museu Imagens do Inconsciente para encontrar as obras de alguns de seus artistas.
Escolhi como título da
exposição “A Arte fora das Normas” para incluir alguns artistas cujos
desequilíbrios – quem não os tem? - não os impediam de levar uma vida integrada
à sociedade, como a excepcional Emma Valle que, embora ainda desconhecida do
grande público, é sem dúvida alguma um dos maiores talentos deste país-continente.
O Pedro Sande e Castro, português de antiga aristocracia, pinta grandes telas
que prendem a atenção. Um ajudante de vidraçaria marroquino, analfabeto,
reinventa uma grafia. O argentino Reinaldo Eckenberger confessava sem
tergiversar traduzir um eterno ajuste de contas com sua mãe-ogra.
Além de curador do evento, terei a honra de mediar uma mesa
composta por três psiquiatras de peso: Antônio Nery, João Medina e Ana Pitta
que chegou a trabalhar com Nise da Silveira no Rio de Janeiro.
No final de julho, a Casa-Museu Eva Klabin, no Rio de
Janeiro, acolherá outra parte da mesma coleção sob o título “Imagens do
Inconsciente/Homenagem a Nise da Silveira”. Esta fundação também organizará um
debate com psiquiatras junguianos.
Agradeço a estas duas prestigiosas instituições a
possibilidade de divulgar um trabalho de meio-século.
Dimitri Ganzelevitch A Tarde, sábado 24 de junho de 2023.
*Wikipedia
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