domingo, 11 de junho de 2023

DEMOCRACIA PARA QUEM?


O noticiário Hoje, da Globo, da quarta feira passada, mostrou um homem com os pés e mãos amarradas com cordas com hematomas arrastado para um posto de saúde onde recebeu os primeiros socorros e carregado como um porco é jogado em um camburão e conduzido a uma delegacia. As cenas foram filmadas por um paciente do posto, que também foi levado para a delegacia por estar filmando, mas depois liberado.
Denunciado por uma madame por ter roubado bombons num supermercado, os policiais de uma viatura pegaram um suspeito a 500m de distância, que não esboçou resistência e confessou o furto. Depois de algumas horas no chão da delegacia pedindo por Deus que o desamarrassem, pois sentia muita dor, o delegado mandou desamarra-lo e preso.
Em seguida, o apresentador da Globo mostra malas de dinheiro e nove aviões de traficantes apreendidos no Rio Grande do Sul e nenhum preso. Aquele vídeo, que já deve ter corrido o mundo, se fosse de Cuba, Venezuela, Coreia do Norte ou China, seria a prova que em ditaduras não se respeita os direitos humanos, mas não, são de um país democrático, o Brasil. Aqui quem rouba para comer é preso e torturado, mas os responsáveis pelo desvio de bilhões do estado são estampados na mídia e liberados para cumprirem a pena em casa. Aliás, no Brasil o bem público é um baldio, é de quem conseguir se apossar primeiro, vide as reservas naturais da Amazônia e do Cerrado.
Muitos roubos no país são legais. Os bancos cobrarem 300% ao ano nos cartões dos que não podem comprar à vista, e juros escorchantes do famoso consignado descontados nas aposentadorias. Um gerente de banco resumiu assim a opera: o banco empresta a quem não precisa e aciona os que não podem pagar. Aliás, o teatrólogo Bertolt Brecht já perguntava: “O que é roubar um banco comparado a fundar um banco?”
O estado também rouba. A Caixa Econômica amealha milhões de reais semanalmente com suas loterias dos que lutam para sair da pobreza, que são ainda gravados com as maiores taxas de impostos. O Banco Central, do Sr. Bob Field Neto, arrocha os comerciantes e industriais que produzem e empregam com os juros mais altos do mundo para enriquecer os rentistas, que não produzem nada.
Há poucos dias a TV noticiava que a Índia com 1,428 bilhão de habitantes ultrapassou a China. Mostrava que 70% da população indiana vive no campo e passa fome, e 30% em cidades sem água e esgoto tratados e com um trânsito caótico de riquixás motorizados. No entanto, é um dos países com maior concentração de riqueza. O repórter perguntou a um alto funcionário indiano como eles iam enfrentar aquela situação enquanto a China se moderniza. Ele deu uma resposta desconcertante: eles se desenvolvem porque são uma ditadura, nós somos uma democracia e nossos trabalhadores têm direitos. Só que apenas 17% deles têm carteira assinada.
Salvador, A Tarde, 11/06/2023

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