JAIME FIGURA

UMA PRESENÇA BIZARRA NO CENTRO HISTÓRICO DE SALVADOR 

Perambulando, há mais de 4 décadas, pelas ruas do Centro Histórico de Salvador, não há quem não conheça - ou até não tema - a "figura" bizarra de Jaime Figura.
Talentoso, inteligente, artista e ex-militar, reservista do exército brasileiro, Jaime Figura é uma incógnita. Uma mistura de indigente, "maluco beleza", artista cult.

Veste-se de latas, penduricalhos, apetrechos enferrujados, que ao andar balançam como chocalhos. E ninguém lhe vê o rosto. Fala pouco, ou quase nada. Observa o mundo por dois pequenos orificios em sua sinistra máscara de metal enferrujado. 
Se não bastasse a sua lúgubre perfomance, no seu bizarro ateliê, localizado na Ladeira do Carmo, ele construiu um caixão, fabricado por ele mesmo, ao qual denomina "sarcófago" , no qual dorme.

Jaime Figura, em seu silencio sepulcral, reflete a "loucura" de uma sociedade em frangalhos. E, do alto de sua onírica e alucinada trincheira, constrói a sua "realidade", preservando-se da maldade humana.

Como ele mesmo afirmou numa entrevista a Pablo Reis: “Desde pequeno, eu sempre vivi sozinho e com medo da maldade das pessoas. Eu era enganado e perseguido. Quanto mais quieto eu ficava, mais problema eu atraía. Começaram a buscar por minha carne, pra saber se eu era homem ou mulher. Não foram os brancos que me subjugaram. Foi minha própria raça que me tirou sangue e mexeu na minha carne”. 

"Jaime confessa que tem medo da maldade do mundo, é a explicação encontrada para colocar tantos obstáculos entre ele mesmo e a vida que passa. Sente solidão quando os turistas estrangeiros o fotografam, sente calafrios quando lhe praticam agressões na rua, sente ódio quando um vizinho ruim de ritmo resolve praticar percussão."

Quem está por trás da máscara de Jaime Figura ? De onde veio ? Para onde vai ? O que pensa ? O que quer ?
Qual o segredo de Jaime Figura ?
Estas são algumas perguntas que ficam no ar. Enquanto isso, a figura humana de Jaime Figura passa , silenciosamente, pelas ruas da cidade, pelos olhos, indiferentes, da cidade e vê a vida passar. Até quando ?

Amália Casal Rey