domingo, 14 de agosto de 2016

CECÍLIA MEIRELES

POETA E EDUCADORA



Cecília Meireles é reconhecida hoje como uma das mais importantes vozes líricas da literatura brasileira e das literaturas de língua portuguesa. Seu lirismo é marcado pela exploração sonora da língua e por movimentos rítmicos que conferem musicalidade aos versos e, ao mesmo tempo, ajustam-se aos movimentos da alma. O vigor das imagens, a qualidade formal dos versos, a variabilidade das formas poéticas (soneto, canção, epigrama, elegia...), aliados ao tratamento filosófico dado aos temas, explicam esse lugar especial que Cecília ocupa na história da nossa poesia.

Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasce no Rio de Janeiro em 7 de novembro de 1901. Órfã de pai e de mãe aos três anos de idade, é educada pela avó materna, Jacintha Garcia Benevides, natural da ilha de São Miguel, nos Açores. Essa avó exerce muita influência sobre a sua formação, cultivando no espírito da futura escritora, desde cedo, o interesse pela pátria portuguesa, sobretudo os Açores, assim como pela cultura indiana e pelo Oriente como um todo. Provavelmente é essa ascendência açoriana que imprime no imaginário da autora o tema da viagem como um apelo recorrente na sua produção literária, que surge inclusive no título de uma de suas obras.

Publica o seu primeiro livro de poemas, intitulado Espectros, em 1919. Segue-se um período de intensas atividades literárias, época em que se encontra com um grupo de escritores que, entre 1919 e 1927, funda as revistas Árvore Nova, Terra de Sol e Festa. Em torno da revista Festa reúnem-se autores como Andrade Muricy, Adelino Magalhães, Tasso da Silveira e Murillo Araújo, que formam, no Rio de Janeiro, a corrente do Modernismo brasileiro que se convencionou chamar “espiritualista”. O convívio de Cecília Meireles com os intelectuais do grupo deve-se ao fato de eles apresentarem uma proposta independente das coordenadas gerais do movimento modernista de São Paulo e de introduzirem, na criação, o diálogo com o pensamento filosófico. Sem responder diretamente aos propósitos de afirmação da nacionalidade e de inovações formais e ideológicas, o grupo ligado à Festa pretende ampliar os limites do projeto modernista em prol de uma arte mais universalista.

Nos anos 20, a autora publica os livros Nunca mais..., Poema dos poemas (1923) e Baladas para El-Rei (1925), obras que revelam a presença da cultura oriental na sua formação, especialmente o livro de 1925. Percebe-se, também, a repercussão do movimento simbolista sobre a produção poética desse período, revelada na exploração da sonoridade, nas imagens imprecisas e de tonalidade mística. Nesta época, escreve ainda os poemas do livro Cânticos, que só serão publicados em 1981.

Preocupada com assuntos relativos ao ensino, Cecília trabalha para o Diário de Notícias do Rio de Janeiro (1930-1933), escrevendo diariamente uma página sobre educação. Essas crônicas seguem sendo publicadas em outros periódicos cariocas. Em 1935, Cecília é convidada a lecionar Literatura Luso-brasileira e, em seguida, Técnica e Crítica Literária na Universidade do Distrito Federal (Rio de Janeiro), onde permanece até 1938. O livro Viagem recebe o prêmio de poe­sia Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, de 1938, sendo publicado em Portugal em 1939. Considerado o tom acentuadamente inovador do Modernismo, Viagem revela uma renovação equilibrada, situando-se entre a tradição e a modernidade. A premiação tem o efeito de consagrar oficialmente a poesia de Cecília Meireles no Brasil e no exterior. O livro representa o alcance da maturidade literária, pois sua obra assume uma feição própria e singular na poesia brasileira do século XX, justamente devido ao equilíbrio entre o clássico e o moderno, tanto do ponto de vista formal quanto temático.

Na seqüência de Viagem, outras publicações no âmbito da poesia consagram definitivamente a escritora, destacando-se as seguintes obras: Vaga música (1942), Mar absoluto e outros poemas (1945), Retrato natural (1947), Amor em Leonoreta (1951), Doze noturnos da Holanda e O aeronauta (1952), Romanceiro da Inconfidência (1953), Canções (1956), Metal rosicler (1960), Poemas escritos na Índia (1962) e Solombra (1963). Em 1964, lança uma coletânea de poemas para crianças, intitulada Ou isto ou aquilo, livro que inaugura uma nova fase da poesia infantil brasileira, tornando-se um clássico da produção poética para a infância.


Cecília Meireles faz muitas viagens ao exterior, entre elas, aos dois países pelos quais tinha muito interesse cultural: Portugal e Índia. O livro Poemas escritos na Índia, publicado em 1962, é resultante de sua viagem a esse país, em 1953, sobre o qual escreveu também um conjunto de crônicas. Nessas publicações, a autora revela a natureza do homem indiano, sua simplicidade e comunhão com a natureza. Em 9 de novembro de 1964, a escritora falece em sua cidade natal.

Estudiosa da literatura, inclusive a destinada à criança, pesquisadora da tradição religiosa oriental, do folclore açoriano e brasileiro, da filosofia ocidental, tradutora de obras fundamentais da literatura universal, entre as quais Bodas de sangue e Yerma, de Federico García Lorca, e Orlando, de Virginia Woolf, Cecília Meireles participa ativamente da cultura e da educação brasileiras do século XX. Mas a sua produção poética ultrapassa fronteiras cronológicas, geográficas e artísticas, e sua contribuição para a educação no Brasil continua atual e instigante.

2 comentários:

  1. A melhor tradutora que esse país subnutrido de bons tradutores já teve.

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  2. Gostei de ler o texto. Aprendi coisas que desconhecia a respeito de Cecília Meireles.

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