A imprensa anunciou: “Baile Bahia Real Masqué” no
prestigioso Palácio da Aclamação, hoje reduzido a mera sala de eventos, como se
não bastasse certa exposição conceitual quando uma mesa do acervo, pendurada no
lobby do palácio espatifou-se, irrecuperável, na nobre escadaria. Durante o
baile – que deve ter terminado hoje de madrugada - terão sido afastados os
moveis, respeitadas as pinturas? Havia ar condicionando, janelas fechadas
evitando que a festa impedisse o descanso da vizinhança? Ou será que carnaval
predatório é tão inevitável quanto erupção de vulcão?
O baiano é festeiro e isso é saudável e charmoso, mas
terão os ilustres músicos - Luiz Caldas, Tatau, os irmãos Macedo e convidados-
adotado um volume de decibéis aquém da indesejável agressão a um patrimônio
nacional? Melhor nem mencionar o dano invisível – por enquanto – causado pelo
excesso de decibéis dos shows do Pelourinho...
Tradicionalmente nossas autoridades
adotam a política do avestruz quando se trata de volume sonoro. Sempre
preocupadas com a próxima eleição, se recusam a enfrentar a sabida e constante
agressão à saúde. Em nada adianta a prefeitura trocar a SUCOM pela SEMOP se o
156 continua sem atender às vítimas de vizinhos indiferentes à Lei do Silêncio.
Lei do vereador Javier Alfaya a qual ajudei a votar quando co-fundador da
Associação Anti-Poluição Sonora de Salvador, sendo então secretário municipal
do Meio-Ambiente o vereador Juca Ferreira.
Nestes 25 anos algo mudou? Muito pouco. Vale lembrar a
escandalosa irresponsabilidade de certo espaço na proximidade do Mercado de
Peixe, cidade baixa de Salvador, que não hesitou em infernizar boa parte da
capital com uma barulheira “bate-estaca” que começou às 22:00 no sábado 9 deste
mês e só terminou às 10:00 do dia seguinte. Doze horas contínuas! Quem
organizou esta “festa” se lembrou dos moradores do Santo Antônio, dos turistas
das numerosas pousadas e dos sem-teto da vizinha igreja da Trindade? Com
certeza, mas apostou na impunidade costumeira.
A este mesmo jornal onde hoje publico meu protesto, moradores
do Barbalho mandam cartas angustiadas, com uma frequência desesperada, sobre as
várias fontes de agressão sonora, sem que nunca a prefeitura se digne de
controlar os abusos. São oficinas no meio da rua, igrejas evangélicas, discotecas
clandestinas e bares alegrados com “som envenenado” saindo do cofre dos carros
de play-boys desocupados. Os fiscais aparecem? Em caso afirmativo, por que
milagre a contravenção permanece?
Uma coisa é a alegria como cultura. Outra coisa é a
permissividade que torna Salvador uma das cidades mais barulhentas da América
Latina, sem que governante nenhum ouse enfrentar o gravíssimo problema.
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde 23 de fevereiro 2019
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