Não é saudosismo de velho rançoso, mas constatação básica de qualquer um que saiba abrir os olhos e tenha um mínimo de memória.
Dos abandonos e agressões ao centro histórico de Salvador já
cansei – por enquanto - de falar. Mesmo assim, não posso deixar de estranhar
que o mesmo prefeito que derruba o imóvel contemporâneo do Lelé, permite, com a
conivência do IPHAN, um bizarro projeto de “modernização” dos arcos da Ladeira
da Montanha. Triste. Os outros bairros da cidade não estão em condições muito
melhores. A Barra de tantas festas parece uma velha farrista decadente. Do
Comércio pouco resta senão sombras de uma época de prosperidade e dinamismo. O
Corredor da Vitória perdeu a maioria de suas mansões, substituídas por espigões
sem elegância nem criatividade e a Graça segue o mesmo caminho. Itapuã perdeu
qualquer vestígio de sua poesia caymminiana. Hoje não passa de uma favela
tentacular.
Saiu da capital, o cenário é constrangedor. A Estada do Coco
nunca teve o mínimo planejamento e concorre em sordidez com a Suburbana. Desde o
aeroporto até Itacimirim, construções selvagens – galpões, centros comerciais,
borracharias... – são um triste prelúdio da Praia do Forte que também muito
perdeu da beleza inicial do projeto Klaus Peter/ Wilson Reis.
Quem se aventura a caminho de sul, após a ilha de Itaparica
com seus lixões à beira de estrada, cada dia mais favelada, melhor não esperar
muito do idílico título de Costa do Dendê. Sua feiura e absoluta falta de
fiscalização torna fastidioso aquilo que fora um magnífico passeio. Concorre
sem dificuldade com as já citadas Suburbana e Estrara do Coco. Neste último
carnaval, a caminho de Maragogipe, constatei que, desde a saída da BR até
Cachoeira a anarquia e a sujeira estão agora complementadas por uma deprimente
plantação de eucaliptos. Eucaliptos no Recôncavo!
Não existe,
a nível estadual, nenhum órgão para fiscalizar a ocupação desordenada de
espaços públicos. A Bahia tem uma natural vocação para a indústria supostamente
não poluente do Turismo, mas não tem qualquer preocupação com seu patrimônio
histórico e natural, os dois pontos essenciais para atrair belgas e coreanos. Quais
são os critérios para alvarás, se é que os há? Existe, entre os diversos
poderes públicos a mais total confusão de propostas e interesses.
Paisagens
também são patrimônio cultural, natural e artístico, e é obrigação dos
governantes preservá-las. Não as agressões imediatistas, mercantilistas que
terminam em sistemática depredação, não somente da memória material, mas também
das riquezas de nossa flora e fauna.
Temos que
perguntar, mais uma vez, aos governantes: qual é a Bahia que vocês pretendem
deixar a seus filhos? Um imenso lixão?
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde 1 de junho 2019.
Salvador uma - Cidade em Ruínas - https://www.youtube.com/watch?v=3Q4-AY3HgGI
ResponderExcluirVocê está coberto de razão, nossos mandatários não se preocupam, em nada, com manter um padrão estético, limpar as cidades e as vias. Nossas praias são verdadeiros depósitos de lixo a céu aberto ou no fundo do mar, tem de tudo. As faixas de domínio das estradas são ocupadas indiscriminadamente, sem planejamento algum. As fachadas das lojas são uma balbúrdia, principalmente nas lojas instaladas em prédios históricos. O pior disso tudo é que ninguém está atento a isso. Muito triste.
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