sábado, 29 de junho de 2019

CASSAÇÃO DE FLÁVIO

200 mil pessoas apoiam petições por cassação de Flávio Bolsonaro



Investigações sobre esquema milionário de corrupção em gabinete do então deputado motivaram criação de petições que pedem a perda do mandato

São 1,2 milhão de reais em movimentações suspeitas na conta de seu principal ex-assessor, 96 mil reais em depósitos fracionados em sua própria conta em menos de dois meses, 1 milhão de reais no pagamento de um título bancário sem identificação do favorecido, e três tentativas de bloquear as investigações do Ministério Público. Em breve resumo, esse é o cenário central do escândalo de corrupção no qual está inserido o nome do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
O caso provocou indignação em parte dos brasileiros que assistiram o parlamentar, já investigado, tomar posse como senador da república no início do ano. Uma das inconformadas com a falta de explicações convincentes por parte de Flávio e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz, o principal alvo das investigações, é a professora e atriz de teatro Vaíde Régia da Silva Reis, autora de um abaixo-assinado que pede a cassação ou o afastamento do senador até que o caso seja esclarecido.

FLÁVIO BOLSONARO ASSUMIU O CARGO DE SENADOR EM FEVEREIRO (FOTO: WALDEMIR BARRETO/AGÊNCIA SENADO)
“Causou-me grande indignação ver um homem que havia acabado de ser eleito, com promessas de beneficiar o povo, envolvido em corrupção”, comenta Vaíde. “Não podia ficar parada. Vi na petição, por meio da Change.org, uma oportunidade de representar o sentimento de revolta e decepção do nosso povo diante desse escândalo. Precisamos fazer a nossa parte, e eu busquei fazer a minha”, acrescenta.
Vaíde utilizou a plataforma Change.org para abrir o abaixo-assinado e conseguiu o apoio de 144,2 mil pessoas em torno do manifesto. O site de petições online hospeda ainda outras quatro mobilizações relacionadas à “novela” das investigações que, a cada dia, vem ganhando novos episódios. No total, os abaixo-assinados somam 200,6 mil assinaturas contra Flávio Bolsonaro.
Na quarta-feira  29, o capítulo que tomou os holofotes foi a terceira tentativa do senador de tentar suspender procedimentos ou a própria investigação – sua defesa entrou com um segundo habeas corpus contra a quebra dos sigilos bancário e fiscal. Anteriormente, já tinha tentado uma liminar para parar as apurações.
Para a professora, que mora em Salvador (BA) e dá aulas de artes visuais e plásticas e de teatro, as tentativas de Flávio Bolsonaro de impedir as investigações deixam claro sua culpa. “Também demonstram o desespero dele em ficar mais e mais implicado nesse caso, o que lhe trará o real risco de perda do cargo de senador e dos seus benefícios – as famosas mamatas”, comenta. “Como diz a sabedoria popular: ‘quem não deve, não teme’”, completa Vaíde, que é professora há 17 anos e também dirige e atua em projetos de teatro, na capital baiana, fora do circuito comercial.
Vaíde também é fundadora e coordenadora do Grupo Arte Educadores Salvador (GAES). À frente do coletivo, representa os arte-educadores da rede municipal de ensino e luta por melhores condições de trabalho e valorização da arte e professores.
A PROFESSORA DÁ AULAS PARA CRIANÇAS, ADOLESCENTES E OUTRAS PESSOAS DA COMUNIDADE (FOTO: ARQUIVO PESSOAL)
O Ministério Público do Rio de Janeiro apura ainda a evolução patrimonial do senador a partir de indícios de lavagem de dinheiro na compra e venda milionária de dezenas de imóveis, entre apartamentos e salas comerciais, que seriam ligados ao parlamentar. “É totalmente incoerente, desonesto e hipócrita uma família angariar seguidores e garantir eleitores para os seus mandatos com base num discurso anti-corrupção, e, ao contrário disso, revelarem-se como pessoas envolvidas com desvios de dinheiro, transferências ilegais, esquemas ilícitos e outros crimes”, protesta Vaíde em relação à bandeira contra a corrupção que a família Bolsonaro adotou durante a campanha eleitoral.

Entenda o caso

O Ministério Público do Rio de Janeiro apura os crimes de peculato (desvio de dinheiro público), lavagem de dinheiro e organização criminosa, que teriam ocorrido no gabinete de Flávio Bolsonaro, entre 2007 e 2018, quando ele era deputado estadual pelo Rio. 
O caso tem raiz em uma investigação relacionada à Lava Jato, na qual o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou as movimentações financeiras nas contas bancárias de Fabrício Queiroz, a partir do repasse de dinheiro de outros funcionários do gabinete do então deputado. Depois disso, o MP abriu um inquérito próprio.
Os promotores tentam esclarecer se Queiroz, PM aposentado e também ex-motorista de Flávio, que atuava como uma espécie de chefe de gabinete quando o atual senador era deputado estadual no RJ, ficava com o dinheiro ou o transferia ao parlamentar. Outro rumo das apurações abrange de certa forma as milícias cariocas, já que parentes de ex-policiais militares acusados do comando de milícias atuaram no gabinete de Flávio.
Ao término das apurações, o MP decide se apresentará denúncia à Justiça.

O outro lado

A Change.org procurou a assessoria do senador Flávio Bolsonaro por telefone e WhatsApp. Até a publicação desta matéria, não foi recebida resposta oficial do parlamentar quanto aos pedidos de cassação e os abaixo-assinados.
Em manifestações anteriores, tanto o senador quanto seu ex-assessor sempre negaram as acusações.
Flávio publicou uma nota no dia 13 de maio, em seu perfil oficial do Twitter, acerca das investigações. Confira:


“O meu sigilo bancário já havia sido quebrado ilegalmente pelo MP/RJ, sem autorização judicial. Tanto é que informações detalhadas e sigilosas de minha conta bancária, com identificação de beneficiários de pagamentos, valores e até horas e minutos de depósitos, já foram expostas em rede nacional após o chefe do MP/RJ, pessoalmente, vazar tais dados sigilosos. Somente agora, em maio de 2019 – quase um ano e meio depois – tentam uma manobra para esquentar informações ilícitas, que já possuem há vários meses. A verdade prevalecerá, pois nada fiz de errado e não conseguirão me usar para atingir o governo de Jair Bolsonaro”

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