sábado, 29 de junho de 2019

JARDINS PLAY-GROUND

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Largo Santo Antônio. Centro histórico de Salvador.

Com fina ironia, o arquiteto Will Marx, especializado em reformar casas no centro histórico, assim definiu a total falta de pesquisa quando a prefeitura de Salvador ou o Estado da Bahia resolvem “recuperar” espaços públicos para lazer e descanso de crianças,
Que a obra aconteça na Pituba, na Ribeira ou no Santo Antônio, as soluções são idênticas. A preocupação em harmonizar o casario existente à volta da praça, sua história e caraterísticas, o perfil dos usuários, nunca são levados em conta. Existe um só modelo que será reduzido ou ampliado conforme o espaço disponível.
Esta ausência de contextualização se estende a muitos paisagistas que atendem a uma clientela classe média alta, para quem a referência sempre será a banalidade divulgada pelos enlatados de Hollywood. Como peça principal, um gramado rodeado de árvores escolhidas preferencialmente entre as que perdem pouca folha. No ano passado, tive um caso curioso com um conhecido meu a quem oferecera duas palmeiras imperiais para o fundo de seu quintal. A madame paisagista opôs um não radical argumentando a altura das palmeiras! Se fossem baobás, ainda daria para entender.... Também recusou os pés de pitanga e acerola que eu pretendia doar ao novo morador. Árvores frutíferas não devem ser consideradas chique.
Em 2016, com excesso de mudas no meu jardim, resolvi anunciar no Facebook uma semana de doações. Poucas pessoas entenderam minha proposta. Uma sofisticada senhora mandou seu motorista pegar mudas. Nem obrigado. Um sujeito pediu para eu despachar para Belo-Horizonte. Não falou em gastos. Um casal veio, mais motivado pela curiosidade em ver a casa que em levar plantinhas. Que não levaram. Duas irmãs me trataram com uma inquietante e descabida altivez.
Muitos consideram árvores e plantas como algo inútil que incomoda e suja. Preferem uma bela chapa de concreto, bem limpa e impermeável, fácil de varrer e com alto potencial para microclima/micro-ondas.
O centro histórico de Salvador chora por mais verde, aquilo que é em grande parte o charme de Olinda. Recentemente, moradores do bairro de Santo Antônio receberam uns potes de concreto, incentivando o plantio de flores et trepadeiras nos passeios e fachadas. Iniciativa louvável, mas insuficiente. Posso delirar por um instante? Vejo uma fila dupla de palmeiras imperiais na ladeira do Boqueirão, um belo flamboyant no largo do Carmo, pelo menos mais uma dúzia de árvores no largo de Santo Antônio, um paisagismo consciente na encosta que divide cidade alta e cidade baixa com muitas árvores frutíferas para manter a fauna ainda sobrevivendo nesta área declarada “non aedificandi” por decreto municipal...
...Sonho meu.

Dimitri Ganzelevitch
A Tarde 29/06/19


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