domingo, 9 de junho de 2019

MUDAR O MUNDO NO GRITO



Imagino a dor e o desconforto das pessoas em situações que ofendem a sua essência e sua integridade de ser humano. Mas, do protesto à interrupção de um espetáculo, é um passo muito grande. Deixa-se de exercer um direito para promover a intolerância e a agressividade, como coação, perdendo com isso qualquer possibilidade de razão. 
Quem acha que pode fazer o que quer por se sentir ofendido, como censurar uma peça teatral e agredir uma professora, não age diferentemente de um bolsominion, nem de evangélicos de periferia, que invadem terreiros para evitar os cultos.
Acredito que o grupo ativista pode ter se sentido ofendido e humilhado com o espetáculo que- segundo eles- é racista por.mostrar situações degradantes que os negros vivenciaram e ainda vivenciam. Por que não organizaram um debate depois do espetáculo para discutir o tema?
Faltou inteligência e razão. Me lembra aqueles que quiseram riscar Monteiro Lobato da nossa literatura, estigmatizando- o como um escritor racista.
Pessoas assim não podem se queixar da censura, quando um movimento seu for barrado, nem criticar regimes políticos que censuraram notícias, peças teatrais, ou outras formas de arte que os contrariavam.
Ou se é inteligente nas manifestações ou se corre o risco de atrair para si a mesma repulsa que merecem os autoritários e aqueles que pensam que podem mudar o mundo no grito.
A história não se constrói impedindo que leituras de situações desconfortáveis, mas verdadeiras, em determinadas épocas e situações, venham a tona porque ofende e faz doer. Melhor legendar esses fatos dizendo o que eles representam.
No caso de atores e atrizes, gritar e falar alto para serem ouvidos, interromper peças e agredir professores, não é sinal de capacidade artística nem de talento. Pode ser até o contrário.
O ressentimento- mesmo justo- não é bom conselheiro.


Aurora Vasconcelos

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