terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

O CASTELO DA VELHA ADORMECIDA

 


Do barroco ao brutalismo, a muy nobre cidade alagoana de Penedo oferece ao visitante um amplo leque de estilos arquitetônicos, tendo um rico acervo eclético, aquilo que o historiador espanhol Francisco Solano afirmava ser o estilo mais peculiar da arquitetura nordestina.


 Perto do charmoso teatro Sete de Setembro, o IPHAN não parece incomodado com a violenta agressão ao vizinho casarão de oitão, cujo térreo foi descaracterizado e pintado com um poderoso rosa choque.

Na cidade de Piranhas, outra joia alagoana, o IPHAN levou quase dois meses antes de permitir a substituição de uns trinta vidros quebrados na fachada do Museu do Sertão. O escritório deste órgão está localizado frente a antiga ferroviária onde o museu foi instalado, a não mais de 20 metros. 





A sergipana Canoa Lusitânia, declarada Patrimônio Nacional, está afundada há mais de um mês no município de Mato da Onça. A Globo tentou contatar o IPHAN, mas não obteve resposta.

E em Salvador, primeira capital da América Portuguesa, como anda a preservação de nosso patrimônio artístico, histórico e cultural? 


Mal. Muito mal. Agonizando. Ao julgar pelo bairro onde moro há 46 anos – centro histórico – só posso constatar a falência do projeto de Mário de Andrade. Desde 1937 muito se fez e se preservou. Hoje pouco se faz e muito se deixa de fazer. Na parte reabilitada entre 1992 e 1993, quantos imóveis estão agora abandonados, voltando ao estado de ruína? Quando foi a última visita dos fiscais do IPHAN ao bairro de Santo Antônio? 

O adormecido Solar Berquô acorda para declarar guerra aos terraços do último andar e placas solares, mas volta a roncar quando se mencionam os telhados de Eternit, as antenas parabólicas nas fachadas, os horrendos puxadinhos, os gigantescos depósitos de águas acima dos telhados, os canos de PVC que jogam as águas de chuva (e outras) no meio da calçada, as violentas cores de acrílico, as esquadrilhas de alumínio e até imóveis inteiros de cinco pisos construídos na calada da noite e nos fins de semana.               

 Durante a obra da CONDER, sem conceito, conhecimento ou cronograma, onde estavam os ditos fiscais? E no Recôncavo, quem acompanhou a secreta restauração da igreja matriz de Maragogipe?

 Em que estado se encontra a excepcional capela de Nossa-Senhora da Penha inteiramente forrada de azulejos do século XVII? Por que se deixa ruir a igreja de Nossa-Senhora do Vencimento? Não adianta esperar resposta. 

Pelas mesmas razões está desaparecendo a igreja de Nossa-Senhora da Encarnação de Passé, também do século XVII.

 Parte de seus antigos azulejos estão hoje decorando dois elegantes salões parisienses. Pelo menos assim se salvaram. E aí, IPHAN?  Vai acordar para tratar sem mais demora daquilo que realmente importa?

 Dimitri Ganzelevitch

A Tarde sábado 19 de fevereiro 2022

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