domingo, 20 de fevereiro de 2022

A IURD EM APUROS!

Igreja Universal enfrenta maior crise desde sua fundação.


Desde que surgiu no Rio, em 1977, a Igreja Universal do Reino de Deus, então fundada por Edir Macedo e seu cunhado R.R. Soares, nunca mais saiu dos noticiários. Desde então, e certamente devido a sua profissão de fé neopentecostal e da defesa da polêmica teologia (ou teoria) da prosperidade, a instituição atraiu para si a atenção e a desconfiança de boa parte da população..

Atraiu também a atenção da mídia, e de autoridades, como o Ministério Público. 

A prisão 

O auge dessa desconfiança e impopularidade ocorreu em 92, com a prisão de Macedo, o líder máximo da Igreja. Ele foi acusado de charlatanismo. Como era previsível diante de uma acusação tão frágil e sem provas, acabou inocentado. Mas, o pior mesmo, foi que Macedo e a Universal atraíram demais a atenção da TV Globo. 


Em 1995 a emissora exibiu no "Jornal Nacional" um vídeo em que Macedo "ensinava" como pastores e bispos deveriam agir para conseguir dinheiro dos fiéis. Foi um escândalo nacional. Depois de alguns dias de ira generalizada contra a Igreja e seus membros, o caso perdeu força e nenhum crime foi ali comprovado também. 

Alvo do Leão 

Veio então a Receita Federal, que passou a investigar declarações de I.R. não só de Macedo, mas de toda a cúpula da Igreja, além de pastores e alguns fiéis. Provocado, o Ministério Público Federal começou a fazer investigações para saber se havia ilegalidade na compra da Record por Edir Macedo, em 1989. Vejam só: uma "investigação" feita apenas quase 20 anos depois do fato! Até o momento da publicação deste texto, nada foi encontrado contra ninguém da instituição.

Ou seja, independentemente do clamor popular e midiático, a verdade é que nada nunca foi definitivamente comprovado nem contra Macedo, nem contra a Universal no Brasil. 

Os órfãos 

Houve ainda outra denúncia que causou furor: em 2017, uma TV portuguesa começou a exibir uma série de reportagens nas quais acusava a igreja de "tráfico de crianças". Muitos pastores e bispos, além do próprio Edir Macedo, adotaram crianças ao longo dos anos. Um dos motivos para isso é a orientação para que façam vasectomia e não tenham filhos (você não entendeu, é confuso mesmo)

A Universal negou qualquer ilegalidade nas adoções de crianças portuguesas órfãs, e o caso arrefeceu. Já no caso mais recente, ainda esta semana, ONGs brasileiras decidiram se unir e acionar o Ministério Público Federal, pois a Universal divulgou em redes sociais que um casal de fiéis se curou do HIV "através da fé". Como podem notar, a igreja de Macedo atrai a atenção da mídia, mas parece que pede por isso. 

Livres para doar 

O Brasil garante liberdade religiosa. Se uma pessoa de livre e espontânea vontade acredita que, se pagar um dízimo, um carnê, ou se doar dinheiro na noite da "Fogueira Santa", vai ter prosperidade na vida, isso é problema dela.

Se ela acredita no pastor ou bispo ou apóstolo que lhe pedem dinheiro, é seu integral direito. "Ah, mas eles estão enganando os pobres". Pode ser, mas isso não é da minha, da sua ou da conta de ninguém. Trata-se de uma questão de fé íntima e inviolável. Está na Constituição. Ponto. 
"Ah, mas eles lavam o dinheiro dos dízimos". Bom, até hoje no Brasil nenhuma autoridade conseguiu documentar e provar isso. Você tem provas? Entregue-as às autoridades.
 
Porém, em Angola a coisa é outra 

Apesar de tudo, todos esses fatos negativos, quando olhados hoje à distância, não se comparam com o que está ocorrendo com a igreja de Edir Macedo em Angola neste momento. 
As autoridades daquele país, com a ajuda de colaboradores e fiéis da própria igreja, dizem ter descoberto um suposto esquema de '"lavagem" de dinheiro e evasão de divisas daquele país. A estimativa é a de que seriam tirados de Angola, de forma ilegal —por pastores e bispos—, ao menos US$ 10 milhões mensais (R$ 50 milhões). Os líderes brasileiros locais da Universal também foram acusados de menosprezar os fiéis angolanos e de, na hora de decidir por "promoções" de cargo e de poder, darem preferência sempre a outros brasileiros. Até a RecordTV acabou entrando na roda e teve sua licença cassada naquele país. Fechou as portas. As autoridades também fecharam vários templos e iniciaram um processo judicial.

Esse julgamento só deve terminar no próximo dia 10, quando um juiz angolano dará a sentença a quatro líderes da Igreja que estão no banco dos réus. Na prática, porém, nada acontecerá com eles: todos já deixaram o país africano. Um deles é Honorilton Gonçalves, ex-vice-presidente artístico da RecordTV. A Universal promete recorrer a instâncias superiores, mas sabe que a chance de reverter a situação atual será muito difícil —quiçá, impossível.

O pior momento em 45 anos 

Vendo agora de longe todas as crises e percalços que enfrentou, a crise de Angola é certamente o momento mais delicado da igreja desde sua fundação. Dessa vez ela foi atingida não só em sua honra, mas também em seus cofres e na própria soberania da instituição. O caso é confuso e paradoxal: a Universal segue existindo em Angola, mas não pertence mais à instituição da qual nasceu. É como uma "sucursal" que se rebelou, ou um navio de uma frota que se amotina e passa a agir de forma independente. E tudo isso com aval da Justiça local. A igreja afirmou a esta coluna que vai recorrer, e que é vítima de preconceito e "xenofobia" por parte dos angolanos. Mas , as coisas ainda podem piorar: a "rebelião" de fiéis em Angola tem sido vista cada vez com mais interesse por outros países africanos nos quais a Universal está. O maior risco de todos, na verdade, é se Angola tiver sido apenas a primeira peça do dominó a cair. 

Ricardo Feltrin no Twitter, Facebook, Instagram e site 

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