Algumas considerações sobre
o II Simpósio Baiano
Pouco
acostumado a falar em público, quando isso acontece fico com a certeza de me ter
expressado de forma confusa e incompleta.
Assim foi
com o II Simpósio Baiano de Jornalismo e Literatura
quando tive a oportunidade de lamentar a caótica falta de planejamento urbano em
Salvador, seja por parte da prefeitura, seja pelas intervenções desastrosas do
Estado, em especial a CONDER cujas atuações no centro histórico só podem
acontecer com a omissão criminosa do IPHAN.
Não, Salvador não é mais aquela. Nossa
capital pretende ser destino turístico, mas sua arquitetura contemporânea não é
nenhuma Dubai. Como é feia a esmagadora maioria destes espigões! Quem se
aventura pelos novos bairros –Pituba, Imbui, Itaigara...- depara-se com uma total ausência de conceito,
um anarquismo imobiliário baseado na mais reles especulação. O medonho se
espalha mais rápido que a beleza e já contagiou o Corredor da Derrota e o Horto
Cimental. Os transportes públicos são uma afronta à dignidade popular e o metrô
conseguiu acabar com um projeto paisagístico de excepcional beleza. Quanto ao
centro histórico, o governo do estado demostra não ter o mínimo interesse em se
envolver com a memória e a história da cidade. Tudo é feito na base do “empurra
com a barriga” como prova a “reabilitação” da rua Direita de Santo Antônio que,
após dois longos anos, ainda continua inacabada sem que seja cobrada uma solução
dos responsáveis.
Fecham-se hotéis 5 estrelas, abrem-se
hotéis 5 estrelas. Para que tipo de freguesia? Meia dúzia de museus sem verba
nem dinâmica - quando foi que você viu pela última vez um cartaz valorizando
nossas riquezas patrimoniais? - a
magnífica baía subutilizada, os tesouros do Recôncavo absurdamente desprezados...
e pretendemos incentivar o turismo! Com que atrativos?
Estamos assistindo ao avacalhamento de
nossa identidade, ao sucateamento de nosso potencial.
Praias paradisíacas existem aos milhares
pelo mundo afora. No Algarve, em Agadir, na Nova Califórnia, nas ilhas gregas,
em Goa e Zanzibar.... Não. O Porto da Barra não é a mais bela praia do
universo, nem o Pelourinho o maior centro barroco das Américas.
A unicidade de Salvador provém de uma
harmoniosa química entre o povo e suas diferentes formas de cultura. Mas como
evidenciar aquilo que temos de mais importante se nem podemos ostentar, como o
Museu da Gente Sergipana em Aracaju ou o Museu do Homem do Nordeste de Recife e
a maioria das capitais brasileiras, um representativo Museu de Cultura Popular
Baiana? As opiniões abalizadas de Paulo Ormindo de Azevedo e os projetos
arrojados de Pasqualino Magnavita são considerados com desconfiança pelas
autoridades e descartados.
Salvador continua entregue à
mediocridade institucional.
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde, sábado 5 de fevereiro 2022.
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