quinta-feira, 12 de maio de 2022

O BANCO DO BRASIL E A LEI DOS QUINZE MINUTOS

 


Sou cliente deste banco desde quando o Tomé de Souza desembarcou no Porto da Barra. Uma conta bem modesta, é verdade. Fosse mais polpuda estaria no Safra, com direito a água com bolhas e rodela de limão. Mas na agência do Pelourinho, a realidade é outra.

Antigamente, antes de entrar, você recebia uma ficha com prioridade por ser da quarta idade. Agora, nada. O distribuidor de senhas não funciona. Como qualquer adolescente, terá que aguardar sua vez, baseado na boa-fé do resto dos impacientes sofredores. A tela não mais chama por número. A tela também não funciona.

Nesta segunda-feira 9 de maio de 2022, cheguei às14h56 e só saí 68 minutos mais tarde... sem ser atendido. Não havia mais de três pessoas, mas como cada uma precisa de meia hora no mínimo para ser atendida e que só havia um funcionário - sobrecarregado de trabalho sem jamais perder a ternura – meu turno não chegaria antes das tantas.

Saí sem a prova de que a Lei dos Quinze minutos é solenemente ignorada pelo “Maior banco da América Latina”. Sofrem os clientes, sofrem os funcionários. Talvez por isso o Google possa informar que: “Banco do Brasil fechou 2021 com lucro recorde, ao obter ganhos de R$ 21 bilhões. ”. Quando uns ganham muito, outros têm que perder.

Voltei no dia seguinte, terça-feira 10 de maio de 2022. Adentrei o templo do capital com emoção e insegurança. Será que hoje, finalmente, algum sacerdote dedicará seu ritual à minha angústia? Angústia, diga-se de passagem, criada pelo próprio banco ao inventar constantes empecilhos no meu celular para não ter acesso aos encantos do Pix, como qualquer vendedor de pipoca.

Mais uma vez tive que aguardar por 55 minutos (só) até ser atendido pelo mesmo funcionário que não conseguira me ouvir na véspera. Na mesa ao lado, um estagiário tentava desesperadamente, por mais de uma hora, resolver o problema de um senhor de porte avantajado e blusão de chuva. Usar o sanitário da agência? Proibido. Aguente!

Em outros tempos, a ficha da entrada, com hora de chegada, comprovava o tempo de espera e se podia pretender uma queixa no Ministério Público. O que, aliás, nunca resultou em melhorias no atendimento. Hoje, qualquer sonho em expressar sua insatisfação não passa de doce delírio.

É exatamente por esta razão que, aproveitando meu espaço quinzenal neste nobre e centenário jornal, resolvi assumir o papel de porta-estandarte da multidão de clientes maltratados, massacrados pela indiferença de uma empresa que, apesar de só existir graças a estes, se permite, com desmedida arrogância, desprezar aqueles que, perdoem a redundância, são sua única razão de existir.

Está na hora do Banco do Brasil se comportar democraticamente e não como os barões do tempo da escravidão.

Dimitri Ganzelevitch

A Tarde, sábado 14 de maio 2022.

Um comentário:

  1. Ouvi dizer que os maus tratos ao público é para forçar a privatização do referido Banco. Desse modo, a sociedade pedirá que seja privatizado, para melhorar o atendimento. Faz sentido.

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