quinta-feira, 23 de novembro de 2023

O CASO DA CHADLER

 


Transcreve-se aqui, depoimento sobre a indústria baiana
 Chadler, conforme publicado, no jornal Estado de São Paulo,
 de 14-10-1997, 21 anos passados.

“A história que vou contar é forte e verdadeira. Trata-se de uma empresa de Salvador, que embarcou todas as máquinas em um navio cargueiro e se mudou para New Jersey, EUA. 
O empresário se cansou de tantos impostos e dos juros escorchantes praticados no Brasil. O empresário ainda possui uma unidade fabril semelhante em Ilhéus. Com isso, ele adquiriu uma rara condição de fazer comparações precisas entre negócios iguais em países diferentes. 
Tanto a empresa que se foi como a que ficou produzem manteiga de cacau. Como era a de Salvador, a fábrica de Ilhéus continua pagando mensalmente o PIS, COFINS, IPI, IOF, CPMF, INSS, INCRA, SEBRAE, SESI, SENAI, FGTS, ICMS, IPTU, IPV, imposto de renda, contribuições sobre o lucro, salário-educação, seguro-acidente, imposto de importação, guia de importação, contribuição sindical e vários outros. 
A de New Jersey paga apenas a previdência social, seguro-médico, seguro-desemprego IPTU e, uma vez por ano, imposto de renda sobre dividendos. Devido a essa simplicidade tributária, as suas despesas com administração são de apenas 25% da fábrica de Ilhéus. Com poucos impostos, o risco de multa, conflitos judiciais é muito mais baixo do que em Ilhéus, o que também representa economia. Nas duas fábricas, a matéria prima é o cacau. Inacreditável, lá o cacau é 3% mais barato do que aqui. 
A empresa tem que manter estoques para 4 meses. Em New Jersey, 4 dias, pois as entregas são pontuais e o custo financeiro de estocagem é claro, é muito menor. O preço das peças de reposição para as máquinas e equipamentos das duas fábricas é 30% mais em conta em New Jersey. Embalagem e eletricidade custam 1% menos do que no Brasil. No primeiro ano de trabalho, a fábrica de New Jersey sofreu um incêndio. 
Em cinco minutos o fogo foi apagado pelos bombeiros municipais. Lá, não há necessidade de cada empresa ter uma brigada de incêndio, como no Brasil. Mais uma economia. No campo do trabalho as diferenças são monumentais. Os funcionários vêem de carro para o trabalho. Não há despesas com vale-transporte. Eles trazem seu lanche de casa, o que dispensa o ticket-refeição e cesta básica. A maioria possui convênio médico, o que economiza a contratação de plano de saúde em grupo. 
No dia em que chegou em New Jersey, o empresário recebeu representante de um banco local que lhe ofereceu empréstimos para investimentos na base de 7,5% ao ano (em Ilhéus 21%). Ele modernizou a fábrica e a produtividade disparou. Hoje para a mesma produção, o quadro de pessoal em Ilhéus é de 150 operários; o de New Jersey, 55. Atentem agora para as diferenças salariais. 
Na fábrica de Ilhéus o salário médio é de R$650,00 mensais que, com encargos sociais compulsórios e negociados da ordem de 111%, passa para R$1.373,45, ou seja, cerca de U$1,280.00 (da época) que os operários baianos custam para a empresa, eles levam para casa apenas US$927.00. Dos US$2,182.00, os operários de New Jersey levam para casa US$1,989.00. 

Para a empresa o trabalhador americano custa 70% a mais para as famílias, ele leva 111% a mais do que o brasileiro. Vejam agora este contraste. Os 55 empregados de New Jersey geram uma folha mensal de US$120,000.00. Os 150 de Ilhéus, US$192,000.00. 
Em outras palavras, em relação ao brasileiro, o trabalhador americano ganha mais, leva mais do dobro para casa e, no agregado, custa 60% menos para a empresa. Eu não estou inventando. 
Essa é a história real da Chadler Indústria e Comércio. 
A unidade de Salvador foi embora e migrou para um país de salários altíssimos. E está compensando. Você já imaginou se ele tivesse mudado para a China, Coréia, Indonésia, Índia ou Filipinas, onde os salários e os encargos sociais são infinitamente mais baixos do que os do Brasil? 
O mais triste é que no dia da mudança não houve protestos, greves ou piquetes. As máquinas foram desmontadas e embarcadas num navio fretado, e a empresa se foi, ‘tranquilamente’, deixando para trás a destruição de 150 postos de trabalho diretos uns 500 indiretos. A mudança não chamou a atenção de ninguém, nem das autoridades. Até parece que, por aqui, há empregos sobrando. 
O dono da empresa me disse ter esperança de voltar. Quanto tempo os brasileiros terão de esperar para reconquistar os empregos que se foram? Um ano? Dois? O próximo milênio? Espero que isso ocorra antes de outras transferências de fábricas. O que faremos nós aqui com os desempregados, os impostos, a CLT e os sindicatos se as empresas se forem”. Publicado em O Estado de São Paulo, 14/10/1997. 
Não se sabe aqui o nome do depoente.

Não foi considerado aqui os órgãos de fiscalização, que cobram taxas para tal mister, quando não obrigam as empresas a se informatizarem com equipamentos servindo ao fisco, federal, estadual e municipal (as famosas SEFAZs).
Destacam-se, ainda, agências reguladoras, INMETRO, IBAMETRO, Vigilância Sanitária, IBAMA, PROCON, defensores de direito autorais de músicas (ECAD), dentre outros.

Por oportuno, na Folha de São Paulo de hoje, no caderno Mercado, tem-se a comprovação disso: “Inmetro quer aumentar fiscalizações e quintuplicar faturamento como agência”.

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