sábado, 18 de novembro de 2023

A GUERRA NO ORIENTE

Bombardeio na Faixa de Gaza - Foto: Mahmud HAMS | AFP

Um leitor indaga minha opinião sobre o conflito em Gaza. Pouco tenho a dizer, a não ser que é mais um símbolo da estupidez humana. Israel e Palestina se enfrentam pelos mesmos motivos há 3 mil anos: terra e religião; poder e dinheiro; ódio e vingança. E em seu entorno outros homens, outras nações valem-se da guerra alheia pelas mesmas razões.

Judeus e palestinos são filhos do mesmo pai, descendentes de Isaac e Ismael e brigam ao longo de toda a Bíblia. No Antigo Testamento, os filisteus são sempre os vilões, os inimigos de Israel, e quem são os filisteus se não os palestinos que viviam na região conhecida biblicamente como Filístia ou em latim 'Philist(h)aea’.

O mais famoso conflito entre eles deu-se no Vale de Elah, perto de Belém, onde o jovem David lutou contra o gigante Golias e o venceu, pois, munido de uma funda, atingiu-o com uma pedra e depois cortou-lhe a cabeça. Essa é a versão dos israelenses, os palestinos provavelmente têm outra e é assim há 30 séculos. No conflito atual, as versões continuam e cada lado edulcora a sua, mas há fatos incontestáveis. Há o fato de que o Hamas não representa o povo palestino e que tampouco Benjamin Netanyahu representa a maioria do povo judeu, tanto assim que antes da guerra milhares de israelenses lotaram as ruas de Tel Aviv clamando por sua renúncia. Há o fato de que o Hamas é e sempre foi um grupo terrorista e praticou um ato de terror injustificável, matando jovens, mulheres e crianças e fazendo mais de 200 reféns. O Hamas queria a guerra e seu ato de terror teve o intuito de desencadeá-la. Mas há também a reação violenta e cruel de Netanyahu que matou, e ainda está matando, crianças, mulheres e idosos indiscriminadamente. E atacando alvos civis e hospitais. Não importa quem esteja nos subsolos dos hospitais, nenhum motivo justifica bombardeá-los. O primeiro-ministro de Israel parece imbuído da ira de Jeová que, no Deuteronômio, clama pela vindicta: “Minha é a vingança, e eu lhes darei o pago”. 

A reação de Netanyahu não faz jus à inteligência israelense e teve o condão de reacender o antissemitismo mundo afora. É típica de um ditador, acusado de corrupção, que usa a guerra para tentar esconder sua incompetência. A verdade é que os palestinos precisam se livrar do Hamas e Israel precisa se livrar de Netanyahu.Mas não vamos esquecer que a origem recente dessa luta deve ser creditada às potências vencedoras da 2ª guerra e a resolução da ONU de 1947 que determinou a partilha das terras situadas entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo e a criação do Estado de Israel, sem criar ao mesmo tempo o Estado da Palestina. A guerra no Oriente Médio não será resolvida com o terrorismo do Hamas, nem com a “punição coletiva” que Netanyahu impôs a faixa de Gaza. Israel e Palestina precisam de paz, mas ela só será alcançada com novos líderes.

* Armando Avena é escritor, jornalista e economista, membro da Academia de Letras da Bahia 

 

 

 

 

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