quarta-feira, 8 de novembro de 2023

UMA OPORTUNIDADE PERDIDA


Nunca preso a uma fórmula, irrequieto, pouco sensível aos modismos, sempre pesquisando novos materiais e novas expressões, Mário Cravo Jr é sem dúvida o mais impactante artista que a Bahia teve nestes últimos cem anos.

Assim que a homenagem no Museu de Arte Moderna era mais do que merecida. Mas, sejamos honestos, esperava outra abordagem desta mostra, o espaço inteiro do Solar do União sendo ainda pouco para reverenciar nosso maior modernista.

O que foi apresentado na sala nobre é forte, sem falha, equilibrado. Mas com evidente gosto a pouco. Poucas esculturas – cadê o Antônio Conselheiro? -  nenhuma gravura, aquarela ou desenho, nenhuma documentação sobre a trajetória, nem contextualização. Onde estão as fotos dele com a família, a infância em Alagoinhas, estudante no António Vieira, sua vontade de ser astrônomo, as viagens pelo Nordeste, a passagem pelo próprio MAM como diretor, as relações com o poder, as personalidades de seu tempo e com os mitos afro-brasileiros? Não existem vídeos mostrando o Parque das Esculturas, o artista no seu atelier, trabalhando, conversando com Jorge Amado ou Lina Bô Bardi? Fotos das obras dispersas pela Bahia – a Fonte da Rampa do Mercado, o monumento a Clériston de Andrade, a Cruz Caída do belvedere da Sé, o Cristo Crucificado de Vitória da Conquista e tantas outras – correspondência com outros artistas, lista das exposições pelo mundo afora?

Um trabalho sério de pesquisa com os familiares e amigos, em bibliotecas, galerias, museus - São Paulo, Nova Iorque, São Petersburgo, Berlim, Jerusalém etc -  para editar um catálogo consequente senão exaustivo, daqueles que se guardam com cuidado, era o mínimo que se podia esperar de uma exposição celebrando o centenário de Mário Cravo.

Nem as duas obras deslocadas da sede dos Correios na Pituba mereceram o devido pedestal e iluminação especial. Jazem no chão irregular do pátio, debaixo de um flamboyant com direito a acompanhamento de lixeira, sem qualquer notícia explicativa.

A Bahia continua fazendo cultura como uma velha solteirona faz tricô, sentada junto a janela, olhando a vida passar. Não me convenceu adaptar o Palacete das Artes em Museu de Arte Contemporânea. Complexo de vira-lata. Os grafiteiros convidados dão saudade de Bansky e dos Gémeos. Quanto à instalação de uma pista de skate... Misericórdia! Já que estamos na apelação, porque não colocar um paredão para nos deliciar com sofrência? “Ninguém é de ferro” de Wesley Safadão na mansão do Comendador Bernardo Martins Catharino era só o que faltava. E o que estão fazendo com o Museu de Arte da Bahia? Todo o passado da Bahia na reserva técnica. Coitada da Silvia Athayde!...

Enquanto isso, Belo Horizonte vai receber exposições do Centre Pompidou

Dimitri Ganzelevitch

Nenhum comentário:

Postar um comentário