sexta-feira, 21 de julho de 2017

QUANDO UMA MORTE...

...EXPÕE A SELVAGERIA DE UM PAÍS
Clóvis Rossi
Alguém, no Facebook, chamou a atenção para os comentários a respeito da nota oficial do chanceler Aloysio Nunes Ferreira sobre a morte de Marco Aurélio Garcia, o assessor internacional dos presidentes Lula e Dilma.
Leio pouco os comentários não só no Facebook como no online desta Folha, porque a grande maioria é escrita com o fígado e não com o cérebro. E o fígado é um péssimo conselheiro. Não permite que se diga algo aproveitável.
Mesmo partindo dessa suposição, fiquei chocado com a quantidade de ódio vertida nesses comentários, tanto contra Marco Aurélio como contra Aloysio.
A nota do chanceler é digna. Reproduzo o essencial dela:
"Recebi, com pesar, a notícia da morte do professor Marco Aurélio Garcia. Eu o conheci na nossa mocidade, fomos companheiros de exílio. No magistério, assim como na política, ele agiu com firmeza e coerência na promoção de sua visão do Brasil e do mundo e por isso teve minha estima. Nossos caminhos divergiram. No entanto, mantivemos uma relação cordial e era sempre um prazer renovado, quando o encontrava, desfrutar de sua prosa culta e inteligente".
É uma demonstração acabada de civilidade. E a odienta reação a ela demonstra que a vida civilizada no Brasil está em vias de extinção. Não há mais adversários que divergem mas que, ainda assim, mantêm "uma relação cordial". Há apenas inimigos a abater.
Aliás, o diálogo nem precisa ser cordial. Basta que se aceite o fato de que, em política, o essencial é dialogar, em vez de pura e simplesmente desqualificar o contrário, vivo ou morto.
A selvageria que tomou conta do país faz com que a esquerda saque do coldre o rótulo "neoliberal" e com ele acha que desclassifica o outro lado. A direita, por sua vez, grita "esquerdista" e acha que o sujeito que merece esse rótulo está condenado à danação eterna.
Pode até ser divertido participar desse jogo cretino, mas há um problema: cuspir um rótulo não faz com que o rotulado desapareça da face da Terra. Nem permite que se construa um projeto qualquer de país que vá além de rótulos, platitudes, generalidades e bobagens.
Com isso, o Brasil vai ficando mais e mais primitivo, mais e mais selvagem

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