quarta-feira, 3 de maio de 2023

PORANDUBAS POLÍTICAS


Gaudêncio Torquato

Panorama
Quatro meses
O governo Lula 3 chega aos quatro meses com uma nota 6 na escala 0 a 10. Referência deste analista. Número que deve ser 10 na contagem de um membro do PT, 6 a 7 na visão de um esquerdista moderado e 1 a 2 na opinião de um bolsonarista. Ou seja, a avaliação da administração lulista depende da origem da fonte. O posicionamento do participante da enquete explica má ou boa avaliação. Tento explicar minha posição.
Arcabouço confuso
Começo com o eixo que constitui o calcanhar de Aquiles do governo: o arcabouço fiscal. Trata-se de uma peça meio solta na engrenagem. Não está firme. O ministro Fernando Haddad se esforça para chegar a um ponto de equilíbrio, entre o controle dos gastos e a busca de novas fontes de receitas. Os últimos movimentos mostram a tendência da administração em taxar riquezas/investimentos no exterior e melhorar a condição do bolso das classes no pátio inferior da pirâmide social. Para tanto, melhoria do salário-mínimo e aumento do teto do IR para efeito de taxação.
Nem lá, nem cá
O trabalho da equipe econômica, que parecia mais robusto por ocasião dos primeiros informes, se estiola ao longo dos dias, a denotar a dificuldade do governo em agradar gregos e troianos. Por mais que Lula se esforce para arrumar um discurso convincente para satisfazer às classes médias, não tem melhorado sua avaliação. Ao contrário, a cada dia, o presidente insiste em resgatar o velho discurso de pobres contra ricos e a levantar bandeiras vermelhas dos tempos d'outrora.
IPESPE
O Instituto do pesquisador Antônio Lavareda, na pesquisa de abril, encomendada pela Febraban, mostra certa estabilidade na avaliação do governo Lula. A aprovação cai 1 ponto, de 40 para 39 (ótimo e bom) e a desaprovação fica em 28 pontos (ruim e péssimo). A área da saúde e a de emprego e renda lideram as demandas por maior atenção.
Vermelho
É fato que, sob a paisagem estética, Lula aboliu o vermelho de suas roupas, que ostentam a cor branca, com desenhos e arremates cromáticos, mas a vermelhidão continua forte nos grupamentos do MST e da CUT, reunidos nos eventos de massa. Lula tem usado o palanque para atingir sua antiga plateia, a quem faz acenos com uma adjetivação polarizada. Daí as urras de "mito, mito, mito" que Messias continua a produzir em seus primeiros movimentos na volta dos Estados Unidos.
Bolsonaro emerge
Explicam-se, assim, os passos do ex-presidente Bolsonaro, saltitantes em função do tiroteio que continua a receber de Lula. Quem está pondo lenha na fogueira é Luiz Inácio. Jair conta com o tom agressivo do presidente para despontar como o comandante geral das oposições. E, nessa condição, espera construir massa de pressão contra a inelegibilidade, que ganha viabilidade junto aos membros do Tribunal Superior Eleitoral.
Escapando
Bolsonaro se coloca na condição de vítima. Incrível, mas verdadeiro. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito será um palanque para o discurso oposicionista, espaço em que Lula será marcado como conivente (pois sabia dos riscos de depredação ocorridos em 8 de janeiro) e ele, Bolsonaro, longe do país, longe dos acontecimentos, teria nada a ver com a tragédia. Mesmo com o domínio do governo sobre a narrativa na CPMF, os bolsonaristas abrirão um berreiro. A conferir.
Comunicação ruim
O governo Lula 3 tem uma comunicação falha. O ministro Paulo Pimenta ainda não encontrou o fio da meada. Lula deve iniciar uma live semanal, quando, de maneira informal, dará informações e opiniões. Tudo a ver com o resgate de imagem.
Amorim
O assessor especial de Relações Internacionais, Celso Amorim, irá à Ucrânia. Mas terá dificuldades em arranjar um discurso que agrade a Zelensky, da Ucrânia, e a Putin, da Rússia. Interessante: o chanceler Mauro Vieira desapareceu. Amorim é o real ministro das Relações Exteriores. P.S. As declarações de Lula sobre a guerra na Ucrânia, apesar da mudança de fala, inviabilizaram o papel do Brasil na condução de uma política de paz.
Tebet
Simone Tebet, ministra do Planejamento, baixa na escala de visibilidade. Está contida.
O agro
O agronegócio está de costas viradas para o governo. Bolsonaro faz festa com os empreendedores do setor.
Charles III
Lula se prepara para ir ao Reino Unido. Vai assistir à coroação de Charles III, que, segundo se lê, dorme abraçado ao seu ursinho de pelúcia. E, ao escovar os dentes, já encontra 1 cm de pasta na escova, medido por seu mordomo.

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