segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

CINQUENTA CENTAVOS


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Por volta das 14 horas de hoje, parei num ponto de ônibus e, imediatamente, na mesma pista dos coletivos, veio um homem pobre conduzindo uma espécie de riquixá de lata, com pinturas ingênuas, provavelmente um vendedor de rua. 
Sua aparência era próxima à de um mendigo. Suas roupas apenas cobriam a pele áspera de ficar ao léu. De longe, aparentava 60 anos, de perto via-se que talvez nem tivesse 30. 
No mesmo momento em que deu uma rápida parada para descansar, quase em frente ao referido ponto, ao mesmo tempo que eu, ele viu uma moeda prateada próxima aos seus pés. 
Imaginei que fosse abaixar-se para apanhá-la, o que de fato aconteceu. Lentamente, pegou a moeda e colocou no bolso. Sorri para ele em aprovação pelo ato singelo, que sorriu de volta, numa expressão de pura e ingênua felicidade, sob o sol de mil graus da tarde. 
Seu sorriso largo imediato não conseguiu esconder a maioria dos dentes que não tinha. Nesse instante, tudo em volta se tornou menor. Aquela boca aberta resumiu a crueldade e o descaso com que tratam os humildes. Quantos miseráveis pelas ruas, tão expostos à sorte quanto as pedras? 
Ouvi sua voz tímida dizer a alguém mais adiante: "Foi cinquenta centavos". Disfarcei meu choro, ali no meio da rua, olhando um santo passar por mim. 

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