A padaria de
meu bairro é onde a gente encontra todos os que por lá moram ou trabalham. Tem
até quem venha de longe para comprar os sonhos da Flor de Santo Antônio.
Dia desses
sentei por alguns minutos à mesa da Amália
Casal com
quem divido amigavelmente opiniões muitas vezes opostas. O que nunca impediu o
prazer dos encontros. Despedindo-se, ela
me faz uma gentil observação sobre meus escritos sempre tão críticos. Ela tem
toda razão, se bem que muitos textos como aqueles sobre Caymmi, Maysa, os
blocos de carnaval da rua Direita ou os pássaros da varanda estão a mil léguas
do mal humor.
Mas como
ficar cego aos desmandos dos que nos governam? Alguém já pensou, por exemplo, o
que seria do centro histórico de Salvador sem o empreendimento de um punhado de
homens e mulheres que, teimosamente, recusam emigrar para outras partes da
capital? Graças a eles temos muitas das melhores hospedagens da cidade. A
Pousada do Boqueirão, o Amarelindo, Aram Yami, Villa-Bahia são hoje referências
internacionais. Ultimamente o Fera Palace e o Fasano vieram consolidar esta
liderança. Além da hotelaria, os mais exigentes gourmets podem sentar às mesas
do muy nordestino Cuco, Mama-Bahia cuja carne é famosa, Poró, que virou um
verdadeiro centro cultural, o sofisticado Pysco, a cozinha familiar do
Mini-Cacique, os sorvetes do Laporte e o incontornável Villa-Bahia, considerado
por muitos como um dos melhores restaurantes do Brasil. Para os que desejam
curtir uma prazerosa “happy-hour” o Cafelier deveria ser tombado como
patrimônio de Salvador. Evidente que minha lista de estabelecimentos de
qualidade no centro histórico dificilmente seria completa sem mencionar as
trufas de chocolate da Marrom-Marfim que fornecia para o Norberto Odebrecht, as
quartas-feiras d´Aboca e a maniçoba dos fins de semana no secreto DVeneta. E
não faltam galerias de arte e fotografias, joalharias e boutiques como a Goya
Lopes, Márcia Ganem e Casa Boqueirão.
Todos estes
empreendimentos são o feliz contraponto às ruínas do Ipac, puxadinhos do IPHAN,
pesadas insistências dos ambulantes, extorsão de “baianas de receptivo”, “capoeiristas”
e outros “candombleiros” que pedem polpuda ajuda “para o santo”, macarronadas
aéreas da Coelba, desaparecimento dos azulejos do Convento de São Francisco,
poluição sonora dos shows bregas, museus que abrem – quando abrem - somente algumas
horas de tarde e escritórios oficiais de turismo que não têm mapas nem folhetos
explicativos sobre os inúmeros tesouros de Salvador e da Bahia...
Se o turista
ainda chega até nossas praças é unicamente graças ao dinamismo de nossos
empresários. Grandes e pequenos.
Pronto! Lá
vou eu reclamando de novo. Amália tem toda razão.
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde 9 fevereiro 2019
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