Terminei o ano
irritado. E começo 2020 ainda mais p... da vida. O que é péssimo para minha saúde. Os motivos
se concentram meramente nas decisões governamentais envolvendo a conservação do
patrimônio, sempre levianas, mas prontamente divulgadas por apressados
assessores de imprensa. Quantas vezes já se trompeteou a restauração das
igrejas e convento de São Francisco de Salvador? É só abrir o Google. São
páginas e páginas. Mas nada de concreto. Existe uma evidente falta de vontade
política. Só pequenos surtos sem conceito geral.
Agora fomos
informados do resultado de nova licitação para a dita obra. Seria interessante
termos acesso à proposta. Nos meios profissionais fala-se de escolha baseada no
“orçamento mais baixo” o que, se for verdade, seria uma monumental estupidez,
um flagrante de incompetência por parte do júri. Se júri houver. Aliás, de modo
geral, após acertado o preço bem camarada, serão acrescidos oportunos
“aditivos”. Gente! A sociedade evolui e não aceita mais decisões monocráticas.
O conjunto de São
Francisco vem se deteriorando desde 1992, quando o pátio do convento serviu de
almoxarifado para a restauração do Pelourinho. Em 1999, a Fundação Ricardo Espírito
Santo propôs restaurar a azulejaria da Ordem Terceira de São Francisco. Zeila
Maria Machado, de longe a mais competente restauradora que temos na Bahia neste
campo, alertou os técnicos lusos sobre a errônea escolha de técnica. Não deram
importância. O deprimente resultado é hoje visível a quem visita o templo. De
nariz empinado, a lusitana presidente Maria-João Bustorff, que seria anos mais
tarde, uma medíocre e efêmera ministra da Cultura, nos legou uma obra
antropofágica.
Cansei. Cansei de
rezar para que, milagrosamente, o patrimônio da Bahia seja salvo da indiferença
e omissões de órgãos que nós pagamos para que a primeira capital do Brasil não
seja transformada numa banal Guarujá.
De irritação em
irritação resolvi iniciar um movimento de opinião pública contra a inércia dos
órgãos ditos competentes e entrar com ação no Ministério Público. Não podemos
mais confiar em governantes que se preocupam somente com pontes, viadutos,
monotrilhos e sambódromos.
Restauradores
temos, sim. Apesar da profissão não ter sido reconhecida pela ex-presidente
Dilma, são os valiosíssimos guardiões do patrimônio nacional, seja ele sob a
tutela da UNESCO ou não. Posso até citar o exemplo do convento de Santo
Antônio, em Recife, cujos preciosos painéis de azulejos foram salvos pela
professora Pérside Omena. Não conheço
hoje nenhuma técnica que consiga preservação de igual qualidade.
Em Salvador
teremos, mais uma vez, aquilo que costumo chamar de curativo Band-Aid.
Dimitri Ganzelevitch
Jornal A Tarde
11/01/2020
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