Uma das antigas chácaras de Botafogo, bairro preferido como área residencial pela aristocracia brasileira, está a casa de Rui de Barbosa. Um ano após a morte do líder político, em 1923, o imóvel foi comprado pelo governo com tudo dentro, como a biblioteca, mobiliários e os arquivos que viraram um museu invejável. Em nossa última visita ao Rio de Janeiro fomos conhecer este belíssimo local.
Inaugurado em 13 de agosto de 1930 pelo Presidente da República Washington Luís, é considerado o primeiro museu-casa do Brasil, por ser o primeiro dedicado a uma personalidade.
O local abriga a memória da vida privada e pública de Rui Barbosa de Oliveira (1849-1923), jornalista, jurista, político, diplomata e um exímio orador. Atuou como deputado, senador, candidato à Presidência da República, participou de todas as grandes questões políticas e sociais da época, coautor da Constituição da Primeira República, e foi presidente da Academia Brasileira de Letras substituindo Machado de Assis.
A casa foi construída em 1850 pelo primeiro Barão da Lagoa, que se chamava Bernardo Casimiro de Freitas, um rico comerciante português. A construção está instalada em meio a um jardim histórico, com elementos românticos, entre caramanchões, pontes, lago em forma de rio, cascatas e quiosques. Com mais de 9.000m² é uma importante área verde para o bairro, recebendo seus moradores, diariamente, que buscam momentos de reflexão e de lazer. Mangueira, jabuticabeiras, parreiras, pitangueiras, fruta-pão, roseiras, magnólias, pérgulas, coreto, enfim, uma miragem parada no tempo e no espaço da cidade.
Internamente, o local é um convite à história do Brasil, a começar pelo nome dos ambientes, que representa cada momento marcante na vida pública de Rui Barbosa. Lá, visitamos a “Sala Casamento Civil”, que ganhou o nome em razão da atuação de Rui pela obrigatoriedade do casamento civil; a “Sala Bahia”, em homenagem ao Estado onde nasceu; a “Sala Questão Religiosa”, que apresenta o interesse de Rui por este assunto; a “Sala Maria Augusta”, em homenagem à sua esposa, com quem foi casado por 46 anos; a “Sala Constituição”, considerado o ambiente mais importante da Casa por ser a biblioteca de Rui Barbosa, e por aí vai …
Aliás, a biblioteca foi organizada ao longo de sua vida e reúne 37 mil volumes. Há livros sobre os mais variados ramos do conhecimento. A maioria das obras são jurídicas. Uma curiosidade é que Rui Barbosa possuía as legislações de todos os países, suas constituições, os códigos e as leis civis, comerciais, penais e processuais. Colecionava as obras dos maiores jurisconsultos dos séculos XIV ao XVII. Entre os exemplares, as Leis do Brasil (1808 a 1923), os Anais da Assembleia Constituinte (1823 e 1891), da Câmara (1826 a 1923) e do Senado (1826 a 1923).
E o jardim? Ah, o jardim é um detalhe a parte. É uma das poucas áreas verdes de Botafogo, o que lhe dá importância ecológica e social. Por seu valor histórico e artístico, o jardim e a Casa formam um valioso conjunto arquitetônico, protegido pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) desde 1938.
É considerado um jardim histórico, conforme definição da Carta de Florença, documento de 1981, que estabelece os princípios para a preservação de jardins. A vegetação ainda é bem semelhante a da época de Rui Barbosa, que gostava de cultivar novas espécies.
Inconformado com a decisão abusiva do governo Bolsonaro de fechar a Casa de Rui Barbosa, o povo do Rio de Janeiro foi protestar. A revolta foi a nível nacional.
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